Com problemas financeiros, acreana com ossos de vidro volta a pedir doações na web: ‘não vivo, sobrevivo’

Francisca Vitória, de 19 anos, está desempregada e mora de aluguel. Ela afirma que tem mudado de apartamento constantemente, o que tem causado gastos elevados.

“Eu pensei muito antes de vir pedir ajuda na internet, uma delas foi por vergonha, outras delas foram pelos julgamentos, por eu estar me mostrando uma pessoa feliz, uma pessoa que não falta nada dentro de casa. Mas quantas vezes eu já acordei e não tinha um pão pra tomar café?”

Com esse relato, a jovem Francisca Vitoria Tavares, de 19 anos, publicou um pedido de doações através de uma rede social. Ela relata estar passando por dificuldades financeiras e decidiu promover uma campanha para sensibilizar as pessoas que a acompanham.

O g1 acompanha a história de Vitória desde a infância. Nesta terça-feira (12), ela contou que mora de aluguel e que tem mudado de apartamento constantemente, o que tem causado gastos elevados. Ela afirma que vai precisar se mudar mais uma vez por conta de problemas na moradia atual em Rio Branco, onde ela mora com o namorado. Ambos estão desempregados.

“Eu sempre morei de aluguel, a vida toda, depois que eu saí de casa, com 15 anos. Hoje em dia, como as coisas estão aumentando, eu tendo que me virar só, pagar aluguel, internet, luz, para sobreviver, não sobra dinheiro para fazer feira. E hoje em dia, eu não recebo mais um salário mínimo. Esses dias eu me mudei e gastei o que eu já não tinha para poder conseguir me mudar. Eu vou ter que me mudar novamente, e a minha situação ficou bem mais complicada. Fora outras necessidades que eu tenho, de, às vezes, passar mal e ter que ir para o hospital, pagar transporte. É bem complicado”, conta.

Dificuldades

Vitória, como se apresenta nas redes sociais, explica que recebia o Benefício de Prestação Continuada (BPC), mas perdeu o auxílio depois de precisar fazer um empréstimo para comprar móveis.

Ela relata ainda que o namorado foi demitido em julho deste ano, e está com dificuldades para encontrar um novo emprego. Ele tem feito trabalhos temporários, com os quais consegue entre R$ 15 e R$ 20. Ainda no relato que compartilhou na internet, Vitoria relembra que é portadora de osteogêneses imperfeita, doença genética rara chamada de ‘ossos de vidro’.

“Quantas vezes eu não tinha o básico pra sobreviver? Hoje em dia eu não vivo, eu sobrevivo, e a minha situação hoje é a realidade de muita gente. Minha doença me traz muitas limitações, e às vezes me faz acreditar que eu só vim nesse mundo para passar por situações que fazem eu pensar em desistir todos os dias. Hoje em dia, eu só queria o básico, uma casa, ter o que comer todos os dias, e poder viver tranquila, com pelo menos alguma qualidade de vida e saúde”, declara.
Por conta da doença, Vitória diz que não tem condições de trabalhar fora de casa. Ela atua como maquiadora, mas diz que, para conseguir trabalho, precisaria que o serviço fosse feito em sua casa, e que não tem encontrado oportunidades.

A jovem também apresenta problemas de ansiedade e crises de pânico, e tem feito acompanhamento. Os transtornos surgiram depois da morte de Gael, seu filho, que morreu em 2021.

“Tem dois meses que eu não faço feira. Eu estava sobrevivendo com o que eu já tinha das outras feiras que fiz, porque eu fazia feira grande. Agora, fiquei sem nada praticamente, e resolvi pedir ajuda, porque muitas vezes já tive pessoas que já me ajudaram, e eu estava sem saber o que fazer, porque realmente eu não tenho como trabalhar”, lamenta.

Saúde

Vitória precisa de cadeira de rodas para se locomover desde os 10 anos, e em dezembro de 2021 chegou a fazer uma outra campanha de arrecadação para adquirir um novo equipamento, já que o que possuía estava desgastado.

A mãe de Vitória soube que a filha nasceria com os ossos de vidro ainda na gravidez. Os médicos informaram à mãe da menina que ela teria um problema de saúde, mas o diagnóstico da doença veio após o nascimento. A expectativa era de que a jovem chegasse somente até o quinto ano de vida.

No início de 2020, Francisca engravidou do primeiro filho, Gael Benício. O menino também nasceu com a mesma doença da mãe, passou por alguns tratamentos e morreu de infecção hospitalar em setembro de 2021. Para a mãe, houve negligência médica.

Vitória fazia um tratamento no qual recebia medicação para fortalecer os ossos, mas ela explica que após uma certa idade o tratamento é encerrado, pois o remédio começa a causar problemas de saúde. Ela diz que as fraturas são menos frequentes, mas ela ainda tem lesões.

“Conforme eu vou envelhecendo, os ossos ficam mais fortes, porque com o tempo melhora. Mas hoje em dia, eu não tenho mais fratura que nem antes. Só que, às vezes, eu acabo trincando, machucando. Acaba me deixando sem ter uma condição de estar saindo do lugar sozinha, essas coisas. Esses dias mesmo, há menos de dois meses eu machuquei a minha costela e fiquei alguns dias sem sair sozinha do lugar”, explica.

Em meio aos pedidos de ajuda, ela demonstra gratidão às pessoas que se solidarizam com sua situação.
“Agradeço de coração todo mundo que me ajudou e está me ajudando de alguma forma. A vida toda, pela minha história, Deus colocou pessoas na minha vida que nunca vou me esquecer”, finaliza.

G1/AC