Operação Antimary: Pecuaristas “investiram” até R$ 3 milhões em desmatamento

Em coletiva de imprensa na sede da superintendência da Polícia Federal, em Rio Branco, na manhã desta terça-feira, 29, os delegados Fares Antonine, Ricardo Ferro, Berdard Castilho e Kennedy Rivelino deram mais detalhes das operações Terra Prometida e Xingu, que cumpriram mandados contra uma organização criminosa que praticava crimes ambientais no Acre e Amazonas. Entre os presos na operação está um dos condenados pelo assassinato da missionária americana Dorothy Stang, morta em 2005, no Pará.

Segundo as informações, os alvos da operação foram pessoas que compraram áreas na Floresta Estadual do Antimary, fundando uma fazenda denominada Canaã, em área pertencente à União e desmatando cerca de 600 hectares, em 2022. Concomitantemente ao desmatamento, segundo a investigação, o grupo criminoso fazia a venda da madeira derrubada, justificando a origem do dinheiro a partir de um esquema de lavagem conhecido como “gado de papel”. “Eles fraudavam guias de transferência, inflando o número de gados transportados para justificar uma suposta venda de bois acima do número real, como forma de esquentar o dinheiro”, explicou o Delegado de Polícia Ricardo Ferro.

Com o cerco da Polícia Federal à região do Antimary, os principais agentes da organização criminosa, que seriam dois pecuaristas e um grileiro, criaram uma nova operação na região de Boca do Acre e Lábrea, no Amazonas, próximo ao Acre. Para isso, um técnico de georreferenciamento do INCRA, segundo as investigações, era responsável por falsificar informações do terreno invadido no Cadastro Ambiental Rural, como forma de dar aparente legalidade à posse dos financiadores do esquema.

Neste segundo local de invasão, somente em 2022, cerca de 800 hectares de mata nativa foram derrubados, o que equivale a 800 campos de futebol. “Para destacar a importância da operação, Lábrea, local dessa segunda operação, foi o município mais desmatado do Brasil em 2022”, disse o delegado Bernard Castilho Zenaide.

Na operaçõe de hoje, 29, foi preso Amair Feijó da Cunha, condenado a 18 anos por intermediar a morte da americana Dorothy Stang, em 2005, por ter um mandado de prisão em aberto expedido pela Justiça Federal do Amazonas. Segundo a Justiça do Pará, foi ele quem contratou os pistoleiros Rayfran e Clodoaldo Carlos Batista para assassinar a missionária a mando de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão. O filho de Amair, que não teve o nome revelado, teria participação no esquema de grilagem de terras, mas não foi encontrado e é considerado foragido.

Os pecuaristas, apontados como os cabeças e financiadores do esquema, teriam desembolsado quase R$ 3 milhões para “investir” em desmatamentos nas duas áreas, que somam mais de 1.500 hectares. Contabilizando os bens e recursos extraídos pelos criminosos em suas operações, e o custo para reparar os danos à natureza, o prejuízo à União é estimado em mais de R$ 30 milhões.

Ac24horas