Latifúndio de pai e irmãos do governador do Paraná sobrepõe áreas regularizadas de povos indígenas
Em 25 de abril, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), participou de reunião da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), para discutir sobre “invasões de propriedades” e o marco temporal para demarcação de terras indígenas. Na ocasião, Ratinho Jr enalteceu o próprio mandato, afirmando que “toda terra invadida foi reintegrada”.
No entanto, em outro estado, no Acre, é a família Ratinho que é acusada de promover invasão de terras. Carlos Roberto Massa, Gabriel Martinez Massa e Rafael Martinez Massa, pai e irmãos de Ratinho Jr, são sócios na Agropastoril RGM Ltda, empresa proprietária do latifúndio Gleba Panacre – Parte B, no município de Taraucá. A fazenda invade os limites da Terra Indígena (TI) Kaxinawá da Praia do Carapanã, regularizada desde 2001. Os 13,82 hectares da fazenda sobrepostos à área indígena são, portanto, ilegais.
Os dados foram levantados e checados pelo observatório “De Olho nos Ruralistas” e constam no dossiê “Os invasores políticos”, divulgado nesta quarta (14). “Ratinho [pai] comprou as glebas em 2002, após pagar cerca de R$ 330 mil à Companhia Paranaense de Colonização Agropecuária e Industrial do Acre (Paranacre), empresa apontada como principal promotora de grilagem na região”, explica texto do dossiê.
A fazenda também é vizinha da TI Rio Gregório, que engloba sete aldeias dos povos Yawanawá, Kaxinawá/Huni Kuin e Katukina-Pano. “Na região, Ratinho [pai] possui um histórico de conflitos contra as comunidades indígenas locais — em especial os Yawanawá —, que resistem contra o interesse do apresentador de estabelecer um grande projeto de exploração de madeira na Amazônia”, aponta o dossiê.
A família Massa tem fortuna avaliada em R$ 530 milhões e possui 19 fazendas espalhadas pelo país, investindo principalmente na pecuária e no plantio de soja, milho e café.
Aliados invasores
O dossiê do observatório “De Olho nos Ruralistas” também aponta a ligação de aliados políticos de Ratinho Junior à invasão de terras indígenas. É o caso do sojeiro Celso Frare, proprietário da Fazenda Poncho Verde, em Sete Quedas (MS), que tem cerca de 951 hectares sobrepostos à TI Sombrerito, do povo Guarani Nhandeva. Frare também é dono da Fazenda Rancho Eldorado, que tem 282 hectares sobrepostos à TI Iguatemipegua I, do povo Guarani Kaiowá.
Em 2019, o afilhado de Frare, Luciano Schlumberger, foi indicado para a chefia da Procuradoria Jurídica da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA).
O documento aponta como outros aliados da família de Ratinho Jr os herdeiros do ex-deputado José Carlos Martinez, que controlam a Sapé Agropecuária. Eles são proprietários da Fazenda Sararé (Área 02), em Conquista D’Oeste (MT), que invade parte da TI Sararé, do povo Nambikwara, regularizada em 1985.
Sobre os dados
O dossiê “Os invasores políticos” foi elaborado pelo observatório “De Olho nos Ruralistas” a partir de informações de imóveis rurais cadastrados e certificados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). As informações relativas a 2021 foram confirmadas uma a uma em comparação com os registros fundiários de 2023. Elas foram obtidas a partir de três bases de dados: o Sistema de Gestão Fundiária (Sigef), o Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) e o Sistema Nacional de Certificação de Imóveis (SNCI).
Fonte: Brasil de Fato