Delegado diz que Dudé Lima foi vítima de extorsão e de difamação no caso de conversas íntimas vazadas

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O delegado de Polícia Civil Robert Alencar, titular da Polinter (Polícia Interestadual no Acre) e responsável pela apuração de crimes cibernéticos cometidos com o uso da rede mundial de computadores da internet, disse, nesta sexta-feira (5), que o servidor público José Fernandes Ferreira Lima, o “Dudé”, 59 anos, foi mais uma vítima de falsários e estelionatários que agem no mundo digital. “Ele foi vítima no mínimo de dois crimes: do golpe do nudes e crime de difamação ao tornarem pública uma conversa privada”, disse o delegado.

Dudé Lima é conhecido por ter sido, ao longo de 20 anos, homem de confiança dos governos da Frente Popular do Acre (FPA), desde Jorge Viana, a partir de 1999, passando por Binho Marques a partir de 2006 até chegar a Tião Viana, de 2010 a 2019, quando assumiu o governo do Acre o atual governador Gladson Cameli, do PP. Durante os 20 anos dos governos petistas, Dudé Lima assumiu vários cargos de confiança e especializou-se em coordenar grandes eventos promovidos pelo Governo de forma direta ou em parcerias com a iniciativa privada, como o Carnaval e feiras agropecuárias, como a de Rio Branco e a do Juruá. A experiência lhe valeu o convite do atual governador para vir promover tais eventos em sua administração, o que ele vinha fazendo desde o primeiro mandato de Gladson Cameli até o último dia 19 de abril, quando estourou o escândalo no qual foi envolvido.

Num diálogo por mensagens de aplicativos de celular, Dudé conversa com uma mulher, que não teve o nome revelado. O teor é picante com o diálogo de conotação sexual de ambas as partes, com um pedido de Dudé para que a mulher lhe envie fotos da genitália. Durante a conversa, a mulher pede que Dudé utilize sua influência para lhe conseguir um estágio no governo. Dudé diz que vai falar com um amigo, que seria secretário de Estado, mas diz que ele próprio não tem poderes para tal, mas que, se conseguir o estágio, a mulher teria que dormir com ele. “Se você conseguir serei sua”, diz a mulher num dos trechos da conversa.

O que Dudé Lima não sabia é que, do outro lado da linha, quem pilotava as conversas não era a pessoa que lhe havia enviado as fotografias despidas, imagens belas de uma mulher nua, com exposição de seios e detalhes da genitália feminina, com promessas de sexo futuro. “As imagens eram de um filme pornô”, disse o delegado Robert Alencar, ao investigar o caso.

Ao perceber que havia sido vítima de uma extorsão e tentativa de chantagem, Dudé Lima procurou a polícia, registrando dois boletins de ocorrências os quais foram parar na mesa do delegado Robert Alencar, representante local da Polinter e especializado em crimes cometidos com o uso da internet.

Dudé Lima revelou à polícia que o golpe começou a ser aplicado quando a pessoa com a qual estava conversando o pediu a quantia de R$ 1 mil. “Como eu disse que não tinha, a pessoa pediu R$ 70,00 para fazer as unhas. Essa quantia eu mandei”, contou.

O problema é que o dinheiro foi parar na conta de uma empresária da área de eventos de Belo Horizonte, Cinthia Ribeiro da Mota, cujo CPF foi utilizado na transação, sem que ela soubesse. “A mulher de Belo Horizonte até me devolveu o dinheiro e disse que, por mais de quatro vezes, sua conta havia recebido transferências de pix em pequenas quantias, até de R$ 1, o que me alertou para a ação de uma quadrilha”, disse Lima. “Aí acionei a polícia, como vítima”, contou.

No primeiro momento, Dudé Lima achou que a divulgação das conversas de conotação sexual, que ele não nega terem existido, seria uma retaliação por não ter transferido a quantia de R$ 1 mil solicitados. “Depois eu percebi que eu poderia ter transferido qual quer que fosse a quantia, se eu a tivesse, e o problema existiria mesmo assim porque quem fez isso queria mesmo era atingir minha honra, criando aqueles fatos e o dinheiro não era a questão”, disse.

A Polinter, ao investigar o caso através do delegado Robert Alencar, descobriu que o telefone utilizado nas conversas é de Rio Branco e teria sido manuseado por um homem. Ou seja, quem estava dialogando com Dudé Lima, passando as imagens de uma mulher despida e elevando a temperatura do diálogo, era possivelmente um homem, interessado em promover um escândalo político a fim de afastá-lo de suas funções. “Eu já havia assado por algo parecido em agosto do ano passado, no mesmo período próximo à Expoacre e não dei importância porque recebo esse tipo de mensagens, como outras pessoas devem receber, todos os dias. Só não achei que pudesse se repetir e com essa gravidade”, afirmou Lima.

O delegado Robert Alencar disse não ter encontrado, ao longo da apuração, qualquer fato que possa ligar Dudé Lima ao cometimento de crime, principalmente o de troca de cargos por sexo, como chegou a ser divulgado por setores da imprensa.

“Ele foi vítima duas vezes”, definiu o delegado. O primeiro caso, por ter caído no golpe de aceitar as fotos de um site pornográfico como sendo de uma pessoa real e uma mulher local. O outro caso foi o de ter conversas intimas vazadas ao público, o que é violação de privacidade, crime no Brasil.

“De fato eu conversei com a pessoa. Mas eu não tenho nada à esconder. Sou solteiro, sou livre e, desde que não seja menor de idade, no meu telefone particular, eu poderia conversar com qualquer pessoa, sobre qualquer assunto. Mas em momento algum ofereci cargo ou vantagem para a pessoa”, disse Dudé Lima. “O que quiseram então foi me afastar das minhas funções, por interesse político, por raiva de mim ou por inveja mesmo”, acrescentou..

Dudé Lima disse ainda que, com o parecer prévio da Polícia Civil de que ele não cometeu crime e que no fundo foi vítima, vai voltar às funções na Expoacre 2023, na próxima segunda-feira (8). “Eu só devo satisfação ao governador Gladson Cameli, que me convidou para a função e ao senhor Júlio César, que me levou para o Governo. Quem tentou me prejudicar, vai ter que se ver com a polícia”, disse Lima, ao revelar que não pretende tomar nenhuma atitude de vingança contra as pessoas quando elas forem descobertas. “Vou entregar para Deus. Não sou uma pessoa má e quero que essas pessoas respondam legalmente perante à lei, mas eu, particularmente, não vou tomar nenhuma atitude contra elas. Deixarei que a Polícia faça seu trabalho”, acrescentou.

Quanto a Polícia, o delegado Robert Alencar disse que as investigações prosseguem e que um inquérito desta natureza não tem uma solução rápida porque os investigadores dependem das operadoras de telefonia para o fornecimento de informações e que, em muitos casos, é necessário que a Polícia recorra até à justiça em busca de quebra de sigilos e em busca de dados. “Mas, apesar das dificuldades, a investigação está bem adiantada e chegaremos aos autores”, disse o delegado Robert Alencar.

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