“Pedi muito, em nome de Jesus, ‘não me mata, não me mata, tenho meu filho para criar’. Só pensei no meu filho naquela hora. Implorei para não me matar. Ele me enforcando, falei que estava fazendo todas as vontades dele. Perguntei o que mais queria para me deixar viva”.
O forte relato é da mototaxista, de 44 anos, espancada e estuprada por um passageiro no último sábado (17) em um motel de Rio Branco, capital do Acre. A vítima aceitou conversar com o g1 nesta quinta-feira, 23, sem ser identificada.
Os ferimentos deixados no rosto ainda são visíveis. Ela está com os dois olhos roxos, pontos no nariz e embaixo do olho esquerdo. Os machucados internos, aqueles que podem levar anos para ser curados e precisam de todo apoio e ajuda, ainda doem quando ela fala do crime.
O suspeito foi presopreventivamente pelas equipes da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), no bairro Castelo Branco. Ele tem 37 anos, é desempregado e tem passagem pela polícia por furto e roubo, sendo que neste caso ele ainda passou a mão nas vítimas.
Durante o encontro com a equipe de g1, a vítima contou sobre os momentos de terror que passou com o criminoso, que duraram mais de 40 minutos. Muito abalada, a mototaxista ainda não sabe se vai conseguir voltar a trabalhar, disse que toma remédios para dormir e também vem recebendo ajuda de vários lugares do estado.
“Meus amigos estão me dando assistência, fizeram arrecadação, vieram me visitar, estou recebendo forças deles e das minhas amigas do ponto e o pessoal da secretaria da Mulher também está me dando apoio. Desde o primeiro momento o pessoal me dá apoio, a viatura me levou na UPA, depois na maternidade. A gente se sente mais protegida, minhas amigas vieram aqui, me abraçaram e a gente se sente mais acolhida”, conta.
Abordagem
A mulher trabalha como mototoxista há oito anos e, preferencialmente, durante o dia. Ela mora na região do Segundo Distrito com um filho autista, uma filha já adulta e uma neta. É ela quem mantém o sustento da família.
No sábado, ela relembra que o suspeito a abordou e perguntou quanto era a corrida até um motel da Via Chico Mendes. Ela diz não ter desconfiado de nada porque, costumeiramente, leva passageiros, sejam homens ou mulheres, até os motéis, eles descem na entrada do quarto, pagam a corrida e ela sai.
“Não imaginava que era um mau elemento. Ele não abordou na viagem, foi quando cheguei lá e parei a moto. Abordou na porta do quarto. Ele disse: ‘fica quieta, faz o que eu mando, senão, vou te matar, te furar todinha’. Já me tremi e fiquei fazendo o que mandou. Não vi faca em momento nenhum, ele cutucou minhas costas, mas creio que foi com a mão dele. Mas, diante de uma ameaça de um homem daquele tamanho. Eu subi com ele para a suíte de cima”, recorda.
Videochamada após estupro
Na suíte, a mototaxista foi obrigada a tirar a roupa enquanto o suspeito fazia uma chamada de vídeo para uma mulher. A vítima não lembra o que o suspeito falou para essa mulher, mas recorda que ele utilizou o telefone dela para salvar o contato e ligar para a pessoa.
“Eu disse: ‘mas, por que você vai me filmar pelada?’ Ele falou que uma pessoa pagava ele para fazer esse tipo de serviço. Mas, eu estava falando isso para a psicóloga e disse que isso é coisa de psicopata para fazer ciúmes para alguma ex-mulher dele. Fez a chamada de vídeo do meu celular, que foi por meio do meu celular que a polícia chegou até ele. Não sei quem é essa pessoa, vi uma foto dela”, fala.
A vítima conta também que o suspeito ficou algum tempo falando com essa mulher. A delegada Carla Fabíola, que investiga o caso, explicou que já ouviu essa mulher e outras pessoas citadas. Segundo ela, a mulher não tem envolvimento no crime e o criminoso usou o nome dela para criar uma mentira sobre a mototaxista.
A polícia concluiu também que o suspeito nunca tinha visto a vítima. Assim como a mototaxista não se recorda de ter visto o criminoso antes.
Logo que subiu para suíte e iniciaram os abusos sexuais, a vítima diz que gritou muito e foi ameaçada pelo criminoso a parar, caso contrário seria morta. “As meninas do motel falaram que se eu tivesse embaixo teriam ouvido meus gritos porque gritei muito. Só que ele falou que se eu continuasse gritando iria me matar”, afirma.
G1/AC