APIB e site “De Olho nos Ruralistas” invisibilizam candidaturas indígenas no Acre

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A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, a Apib, e o site “De Olho nos Ruralistas” estão apagando pelo menos sete candidaturas indígenas no Acre. No Estado, dez indígenas concorrem a uma vaga, mas apenas três candidaturas estão sendo divulgadas como ‘alinhadas ao movimento indígena’.

A ação deliberada busca invisibilizar candidaturas indígenas que não se encaixem em seu próprio projeto político.

As listas divulgadas não constam por exemplo, com os nomes de Isaac e Francisco Piyãko, lideranças do povo ashaninka que disputam uma vaga na assembleia estadual e no congresso, respectivamente.

É no mínimo vergonhosa a tentativa de apagamento de Isaac Piyãko, o primeiro prefeito indígena do Acre.

A listagem da Apib leva em consideração um conjunto de partidos por eles classificados como de esquerda e centro-esquerda.

Com isso, a Apib partidariza o debate sobre a representatividade indígena, apagando e invisibilizando uma luta que nem sempre segue os ditames do que é pensado pelos auto-declarados partidos de esquerda. Com suas cabeças em São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília, nem sempre são capazes de fazer uma leitura precisa das múltiplas realidades que dizem defender na Amazônia, por exemplo.

No caso de Isaac e Francisco, a decisão de concorrer pelo PSD passa pelo fato de que o PT único partido dito ‘de esquerda’ em Marechal Thaumaturgo, município em que vivem, e votam os Ashaninka, nunca abriu espaço na legenda para a disputa. Isaac Piyãko, primeiro prefeito indígena do Acre, elegeu-se e reelegeu-se tendo o PT como principal adversário.

Mas Isaac não é um caso isolado. Dos doze representantes indígenas eleitos em 2020, apenas três estariam na lista da Apib, por estarem na lista de partidos por eles considerados de esquerda (PT, PCdoB e PDT). Todos os demais estariam fora.

Em termos de Brasil não seria diferente. O site da mesma Apib comemora o fato de que em 2020 o número de indígenas eleitos foi o maior da história do país. Mas pelo seu critério partidário, apenas cerca de 1/3 destes estariam na lista.

O critério partidário de classificação dessa ou daquela candidatura, desconsidera as realidades locais dos municípios pequenos, onde a maior parte dos indígenas vive e vota. Nesses locais, são poucas as legendas que conseguem viabilizar e sustentar uma candidatura, e a exemplo de Marechal Thaumaturgo, a teoria sobre ‘ser de esquerda’, nem sempre corresponde à prática.

Questionado sobre sua escolha partidária, Francisco Piyãko é enfático: “Nossas causas e defesas são históricas, as garantias dos direitos indígenas é algo constitucional. Não são causas de um partido ou outro, mas de toda sociedade. Estamos tendo sucesso em trazer essas pautas para dentro deste partido”.

Mais do que isso, Francisco e Isaac vem realizando um feito notável que não caberia na tradicional, e também artificial, divisão entre indígenas e agricultores, na qual apostam a Apib e o “De olho nos ruralistas”.
Ao invés de apostar num acirramento, os ashaninka vem há décadas, realizando com sucesso, uma política de pacificação com seus vizinhos ribeirinhos extrativistas e agricultores familiares. Estes que inicialmente lhe foram hostis, hoje estão entre alguns de seus principais eleitores.
Como prefeito, Isaac incluiu os pequenos agricultores familiares do município no programa de compra direta de merenda escolar. Como candidato, Francisco busca aplicar a experiência adquirida na política indígena em democracia direta para propor uma construção coletiva de pautas junto aos ribeirinhos, agricultores e moradores das periferias das grandes cidades.

Ao invés de se fechar entre o público urbano que já é simpático às causas indígenas, Francisco e Isaac tem tido a coragem de buscar as pessoas que realmente mais precisam da presença do estado para terem seus direitos assistidos.

Para essa disputa, foi o PSD, um partido de centro, que ofereceu as melhores condições de trabalhar as candidaturas. Afinal, não é uma tarefa simples ter estrutura para uma campanha que acontece principalmente nos rios, entre a população ribeirinha, aonde a internet não chega e a gasolina custa mais de 10 reais, uma realidade que a APIB, com sede física no Centro Empresarial Assis Chateaubriand, em Brasília-DF, e o site “De Olho nos Ruralistas”, situado no Centro de São Paulo, parecem esquecer.

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