Cliente perguntou se não tinha outra vendedora para atendê-la e fez referência à cor da atendente. Mulher diz que não pretende fazer boletim de ocorrência.
“Ela já chegou dizendo que não tinha ninguém para atendê-la , quando eu disse que tinha eu, ela respondeu: ‘Você? Com essa cor?”. A frase foi o que uma vendedora ouviu de uma cliente que chegou em uma ótica de Cruzeiro do Sul e não queria ser atendida por ela por ela ser negra.
A vendedora, que não quer se identificar, disse ao g1 que demorou cair a ficha de que ela havia sido vítima de racismo. O caso aconteceu na última quarta-feira (15), mas repercutiu no fim de semana após ela contar para a dona do estabelecimento e a empresa lançar uma nota de repúdio.
De acordo com a empresária e vendedora, chegaram duas mulheres na ótica, uma mais jovem e outra já idosa. No dia, as outras atendentes estavam ajudando a organizar uma festa e, por isso, apenas uma vendedora estava no atendimento. Quando as duas chegaram, uma delas perguntou se não tinha uma atendente.
Logo ela se apresentou, mas disse que, com olhar de repúdio, a mulher se referiu à sua cor. “Me desmoronou, fiquei muito constrangida. A moça que estava com ela disse para eu não ligar e coloquei meu profissionalismo na frente, mas meu coração estava desmoronando”, conta a vendedora.
O constrangimento foi tanto que ela perguntou se queriam que chamassem outra pessoa, mas a idosa foi repreendida pela outra mulher que a acompanhava.
“Quando fui fazer um exame, ela ficou com as pontas do dedo e quando terminou passou álcool, visivelmente incomodada. Percebi que ela estava realmente incomodada com a minha cor. Nunca passei por isso, eu via no jornal, nos comentários de internet, ficava pensando: ‘que horrível’, nunca pensei que chegaria em mim, é desumano e fiquei sem reação”, revela.
Ela diz que precisou de alguns dias até processar o que tinha acontecido. Ela, então, contou ao marido sobre o que tinha acontecido e ele disse que ela deveria ter contado para as outras funcionárias e dona da ótica.
“Contei para as outras funcionárias e elas ficaram em choque. Quando acontece com você é diferente, a gente fica sem palavras para se defender, no momento dói”.
Pela lei, a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão. Porém, a vendedora disse que não pretende fazer boletim de ocorrência e nem denunciar o caso.
“Prefiro ficar na minha e entregar para Deus. Isso machucou minha família, mexeu muito. Meu esposo é pastor, a gente não tem necessidade de ir para Justiça, a gente espera no senhor. Não caiu a minha ficha ainda”, finaliza.
G1