Família é de meninos que vendiam trufas em restaurante e foram impedidos de brincar no parque após cliente se oferecer para pagar. Mulher conta que casa não tem nem fogão e nem botija.
É com R$ 400 do Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família) que uma família de 15 pessoas vive na capital acreana. Essa é a realidade dos dois meninos que foram impedidos de brincar no parque de um restaurante enquanto faziam a venda de trufas de chocolate no local.
A casa onde moram os dois garotos, mais 10 crianças e três adultos, no bairro Taquari, na região do Segundo Distrito de Rio Branco, não conta com itens básicos como fogão e botija de gás, o que aumenta as dificuldades enfrentadas por todos eles. No local, há apenas uma cama e a maioria das pessoas dorme em colchões jogados pelo chão.
A mãe de um dos meninos, a dona de casa Maria das Graças de Souza, de 43 anos, conta que eles têm 10 e 11 anos e que estudam pela manhã e vendem trufas à tarde pelas ruas da capital. Com essa venda, a família consegue levantar mais R$ 200 por mês, que ajuda nas despesas.
Há cerca de 9 meses, Maria diz que precisou parar de trabalhar por conta de problemas de saúde e o marido, que também está na mesma situação, é mecânico, mas nem sempre tem serviço.
“Antes eu fazia tudo, vendia na rua, fazia faxina na casa das pessoas, mas tive que parar de trabalhar tem uns nove meses por conta da saúde. Aí, a gente vive do Auxilio Brasil, mas não sustenta muito não, são R$ 400, mas vai quase todo para comprar remédios e ainda tem dois que não consegui comprar. Meu marido também é doente, ele é mecânico, mas só quando aparece trabalho. Aí eu faço chocolate, vou vender, dá de tirar uns R$ 200 e a gente compra as coisas e vai guardando um pouco para pagar uma conta ou outra e a gente também paga aluguel aqui. É muito difícil, a gente vai se virando e vai indo com a ajuda de Deus”, disse Maria.
Repercussão em restaurante
A história dos meninos ficou conhecida depois que um cliente do restaurante Guia do Sabor, em Rio Branco, usou as redes sociais para falar sobre um episódio no local, que gerou repercussão nas redes sociais. O g1 procurou o autor da postagem para dar mais detalhes, mas não obteve retorno.
Na publicação feita por ele que viralizou, havia a foto dos dois garotos, que, segundo ele, estavam vendendo bombons no local. Ao ver que os dois olhavam para a área de brinquedos, ele ofereceu a pagar o passaporte para os dois brincarem, mas, segundo ele, a caixa se negou a vender quando viu os dois meninos.
Após a publicação repercutir bastante nas redes sociais, o estabelecimento lançou uma nota na qual diz que um dos princípios e regras da empresa é que para a venda de passaporte para entrar no parque de diversões, a criança precisa estar acompanhada dos pais ou responsáveis.
“O fato ocorrido com as duas crianças desacompanhadas dos pais e responsáveis foi justamente para resguardá-las de qualquer imprevisto que pudesse ocorrer. Não é apenas comprar o passaporte, mas se tornar responsável pelos mesmos e no dia, o cliente só queria realizar o pagamento das pulseiras e iria embora”, diz a nota divulgada na página oficial do restaurante.
Doação
Ao ficar sabendo da situação, a idealizadora do projeto social ‘Conexão do Bem’, Michelle Oliveira se sensibilizou e decidiu ajudar. Ela então fez uma campanha nas redes sociais para conseguir levar os meninos para brincar em um parque e na última quarta-feira (13), eles foram, junto com outros cinco da mesma família, para um outro restaurante de Rio Branco.
Foi Michelle que, depois da repercussão do caso, encontrou onde os meninos moram e divulgou a situação da família em busca de doações.
“Eles vivem um local muito humilde, muita pobreza mesmo, conseguimos doações de roupas, sacolões, na casa deles não tinha nem botija de gás, ficavam cozinhando pelos vizinhos. É triste a pobreza, quando cheguei lá uma menina pequena estava comendo farofa de óleo, sentada no chão. Fiquei assustada com o que vi. A situação deles é muito difícil, quase não têm o que comer, só tem uma cama e a maioria dorme no chão”, disse Michelle.
Ela conta que na rua onde as crianças moram a situação não é diferente em outras casas e que outras famílias também vendem trufas para ajudar na renda. Como o caso de uma idosa, que é conhecida por andar em restaurantes e bares de Rio Branco vendendo bombos de chocolate. O g1 já chegou a contar a história dela em 2019, quando foi vista com a neta de 9 anos nessa situação.