Delegado gay prende mulher por homofobia contra ele em operação no AC: ‘disse que eu deveria virar homem’

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Delegado Railson Ferreira (esq.) e o contador William Bezerra estão juntos há dez anos — Foto: Arquivo pessoal

Delegado Railson Ferreira, de Feijó, cumpria mandados judiciais quando sofreu homofobia da cunhada de um dos presos. Mulher passou por audiência de custódia e permaneceu presa.

Casado há 10 anos com o contador William Barbosa Bezerra, o delegado de Polícia Civil de Feijó (AC), Railson Ferreira, foi vítima de homofobia nessa quarta-feira (29) durante uma operação que investigava envolvidos com o tráfico de drogas. É que a cunhada de um dos presos chamou o delegado de “gay safado” e ainda disse que ele “deveria virar homem”.

Ela foi presa em flagrante e levada para audiência de custódia na quinta (30) e agora permanece presa preventivamente. Em 2019, STF decidiu que declarações homofóbicas podem ser enquadradas no crime de racismo; pena é de 1 a 3 anos, podendo chegar a 5 em casos mais graves.

As equipes de Feijó davam apoio aos policiais Delegacia de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) que cumpriam mandados judiciais contra envolvidos com uma carga de 25 quilos de maconha apreendida em janeiro deste ano na Rodoviária Internacional de Rio Branco.

Dois homens de 20 e 25 anos foram presos na operação. O delegado contou ao g1 que a família do investigado já recebeu as equipes policiais de forma agressiva. A Polícia Civil cumpriu um mandado de prisão contra o cunhado da mulher.

“Fomos recebidas pela cunhada do rapaz com palavrões, a família é bem problemática. Já cumprimos outros mandados na casa, sempre nos xingam, mas a gente releva”, relembrou.

Ainda na casa do suspeito, Ferreira falou que deu ordem de prisão contra a mulher do suspeito de tráfico de drogas por desacato. Revoltada, a cunhada do homem voltou a xingar os policiais e urinou no quintal da casa na frente das equipes.

“Falei que ela estava presa, mas não algemei, não gosto de algemar mulher. Elas continuaram a falar palavrões, a gente gravou tudo. Quando foi para ir embora, falei que a irmã do suspeito estava presa, pedi para trocar de roupa. Desisti de levar a cunhada dele presa para que ela ficasse com as crianças. A ideia era só levar a mulher dele, ouvir por desacato e liberar”, contou.

Homofobia

O delegado falou que a mulher que o ofendeu iria ficar na casa para cuidar das crianças e os demais iriam para a delegacia. Contudo, ao chegar na delegacia, ela já estava lá e voltou a fazer barraco, xingar e mordeu um dos policiais.

“Um dos policiais falou que ela estava xingando todo mundo, que ela queria o celular dela. Na hora que o policial perguntou o nome dela, ela xingou ele de novo, chamou palavrão. Eu sai e fui ouvir a irmã dela, elas queriam os celulares de volta, ameaçaram ir na promotoria. Liberei elas e sai para tomar banho porque estava na operação, mas a Antônia me acompanhou xingando, gravei tudo”, acrescentou.

O delegado afirmou que estava relevando todas as ofensas ditas pela suspeita, nenhum policial reagiu as agressões e xingamentos, mas que não poderia tolerar o crime de homofobia.

“Falei para trancarem a porta e deixar elas fora. Ela falou: ‘tu deveria virar homem, seu gay safado’. Como a injúria racial é inafiançável, assim como racismo, não arbitrei fiança, mandei para audiência de custódia e a Justiça a deixou presa”, disse.
Railson Ferreira é delegado de Polícia Civil há um ano e sete meses, mas o tempo total na corporação já chega a mais de oito ano. Ele entrou como agente de policia, depois assumiu como escrivão e depois como delegado. Ele falou disse que nunca sofreu homofobia durante esse tempo e lamentou a prática do crime justamente no Mês do Orgulho LGBTQIA+.

“Sempre me impus como gay porque fui criado em uma família muito respeitosa. Sou casado há dez anos como William, é um relacionamento muito maduro. Ele é uma pessoa incrível. Nunca tinha passado por isso, sempre me impus, sempre respeitei e me dei ao respeito. Emocionalmente não me abala, mas não poderia deixar passar por tudo aquilo que acredito. Sou muito crítico com relação ao preconceito, por mais que eu nunca tivesse passado por isso como outros passaram, sei o quanto dói”, lamentou.

G1

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