‘Nunca imaginamos que vai acontecer com a gente’, diz acreano esfaqueado durante Réveillon no RJ

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

A expectativa era por conhecer ao vivo uma festa famosa no mundo todo, antes acompanhada apenas a distância, por fotos ou na televisão. Foi o desejo de ver os fogos de artifício mais de perto, aliás, que levou o acreano Kenny de Melo Tejeira, de 23 anos, a descer com a namorada pela segunda vez na noite até a faixa de areia, menos policiada — segundo o casal — do que o calçadão de Copacabana. Precavidos, os dois deixaram para fazer o trajeto já bem perto do show pirotécnico, que começaria em poucos minutos. Na beira do mar, o sonho deu lugar ao drama: enquanto ocorria a contagem regressiva para a virada do ano, e poucos segundos restavam para o início de 2022, Kenny foi esfaqueado duas vezes por um adolescente que tentou lhe roubar o celular.

Os momentos seguintes, em vez de abraços e felicitações, foram de correria desenfreada aos gritos de “arrastão”. Na confusão, ainda sem compreender ao certo o que havia ocorrido, Kenny se perdeu da companheira, que só conseguiria reencontrar mais tarde, já de volta ao calçadão, enquanto buscava atendimento médico. Com a camisa ensaguentada, acabou auxiliado por um desconhecido, que o amparou.

— Nós acenamos para um policial que estava sobre uma torre de visualização, mas ele apenas olhou e apontou para uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que estava parada mais ou menos perto, e só. Não fizeram mais nada — lembra o rapaz.

Da ambulância, onde recebeu os primeiros socorros, Kenny seguiu para uma tenda armada na praia, onde médicos contiveram o sangramento e fecharam o ferimento. Em seguida, ele e a namorada seguiram para o Hospital municipal Miguel Couto, na Gávea. Lá, constatou-se que, por sorte, as duas perfurações — uma na altura do peito, do lado esquerdo, e outra pelas costas, na direção na coluna vertebral — não haviam acertado nenhum órgão nem causado qualquer lesão mais grave. Ele precisou tomar uma vacina antitetânica e teve alguns remédios receitados, sendo liberado por volta de 2h.

O assaltante, que portava uma faca de mesa, não chegou sequer a levar o aparelho. Com o mesmo celular, já mais calmo com as boas notícias sobre os ferimentos, Kenny fez postagens em uma rede social relatando o episódio para tranquilizar parentes e amigos. Até o fim da noite, o vídeo já tinha dezenas de milhares de compartilhamentos e comentários, a maior parte mensagens de alívio ou em tom de alerta: “A verdadeira face da Cidade Maravilhosa”, criticou um. “Não venham para o RJ”, resumiu outro.

— Eu gosto muito do Rio, tanto que já tínhamos vindo outras vezes, mas nunca para o revéillon, que era uma vontade nossa. E é uma coisa muito triste, porque a gente se organiza, faz planos, junta dinheiro, e sabemos que não é algo barato, para chegar na hora e passarmos por uma situação assim. É claro que a gente vê as notícias, sabe que acontecem esses episódios durante a virada do ano, mas nunca imaginamos que vai acontecer com a gente, até por termos tomado cuidado — lamenta Kenny.

Desde o incidente, ainda em recuperação, o rapaz não deixou mais o apartamento alugado em Botafogo. Nesta terça-feira, o casal retorna ao Acre depois de uma semana no Rio que, definitivamente, não deixará saudades nem boas lembranças.

— Não sei se voltaremos aqui, porque realmente gostamos demais da cidade. Mas em Copacabana eu tenho certeza que não vou pisar de novo tão cedo — resume ele.

O Globo

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp