Crime da Motosserra: novo julgamento de primo do ex-coronel da PM é adiado no Acre

Julgamento de Aureliano Pascoal Duarte Pinheiro Neto estava marcado para ocorrer nesta terça-feira (26). Crime aconteceu em 1996 e em 2009, no primeiro julgamento, ele foi absolvido. Porém, em 2015, Câmara Criminal acolheu o pedido do MP-AC e decidiu fazer novo julgamento.

Com os dois advogados tendo pedido para deixarem o caso, o novo julgamento de Aureliano Pascoal Duarte Pinheiro Neto, acusado de homicídio contra Agilson Firmino dos Santos, mais conhecido como Baiano, foi adiado. O julgamento estava marcado para esta terça-feira (26) na 1ª Vara do Tribunal do Júri de Rio Branco e não tem nova data definida.

A informação de que o processo foi retirado de pauta foi confirmada pela Justiça. A justificativa é que um dos advogados de Aureliano Neto está doente e o outro, que é deputado estadual, renunciou do caso.

Para o julgamento que ocorreria nesta terça eram esperadas cinco testemunhas de acusação e mais cinco de defesa. Além do homicídio, Areliano Neto responde também por motivo torpe, tortura e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

Aureliano é primo do ex-coronel da PM Hildebrando Pascoal, condenado a 18 anos de prisão pelo assassinato de Agilson Firmino, no caso que ficou conhecido como “crime da motosserra”.

Na época, Aureliano era comandante da PM no estado. No primeiro julgamento em 2009, ele havia sido absolvido, mas em 2015 a Câmara Criminal acolheu o pedido do Ministério Público do Acre (MP-AC) e decidiu realizar um novo julgamento para Aureliano Pascoal Duarte Neto.

Hildebrando Pascoal é acusado de liderar o Esquadrão da Morte, grupo de extermínio que atuou no Acre durante os anos 90 e que foi responsável pelo “crime da motosserra”.

Como no processo os dois advogados que representavam o acusado pediram afastamento, o g1 não conseguiu contato com a defesa do réu.

Mais uma chance de justiça

Após o novo julgamento ter sido marcado, a filha da vítima, que hoje mora na Bahia, Emanuela Firmino, disse que essa era mais uma chance de Justiça e que o Estado também pague pelo dano causado.

“Em 2009, na época do julgamento foi falado que a página negra do estado do Acre estava sendo virada e nessa mesma época acreditamos também, que, além do julgamento também seríamos indenizados. Não que isso traga paz ao nosso coração, porém minha mãe precisa de cuidados, pois ela ficou abalada fisicamente e psicologicamente. Minha mãe perdeu toda base familiar,perdeu um filho. Na época não pôde ter apoio psicológico e até hoje sinto a tristeza no olhar dela. Esperávamos que o Estado arcasse com todo mal que fizeram à minha família”, disse.

Ela acredita que um novo julgamento deve chamar atenção novamente para o caso.

“Com este novo julgamento, surge uma nova esperança de justiça para todos aqueles que acabaram com nossa família, que acabaram com um sonho de uma mãe e de dois adolescentes”, finalizou.

Entenda

A perda do filho e do marido em um dos crimes mais conhecidos do país ainda é um assunto dolorido para a aposentada Evanilda Firmino. Ela falou sobre o caso ao g1, pela primeira vez, em 2019.

O marido dela, Agilson Firmino e o filho, então com 13 anos, Wilder Firmino, foram mortos em 1996, em Rio Branco, pelo grupo de extermínio que atuava no Acre na época, denominado Esquadrão da Morte.

Passados 25 anos, ela ainda chora ao lembrar como achou o corpo do filho e do marido. Na época, ela e Agilson, que ficou conhecido como Baiano, tinham se mudado para o Acre em busca de melhorar de vida, montando um restaurante de comidas típicas nordestinas.

Já no estado acreano, o casal conheceu José Hugo, o homem que matou com um tiro o irmão de Hildebrando, Itamar Pascoal, em 30 de junho de 1996. Desde a morte do irmão, Hildebrando, que ocupava o Comando da PM na época, iniciou uma caçada para encontrar o autor do crime.

Baiano foi perseguido após presenciar a morte do irmão de Pascoal. De acordo com o processo, Firmino foi torturado até morrer, tendo seus membros amputados com uma motosserra e os olhos perfurados.

Já o filho de Baiano, o menino de 13 anos, teve o corpo queimado com ácido, além de ter recebido alguns disparos de arma de fogo.

Atualmente, Evanilda e os dois filhos que conseguiram voltar para o estado da Bahia, de onde eram naturais, reclamam do abandono e omissão do estado. Como na época, o ex-coronel ocupava um cargo de confiança no governo e criou um grupo de extermínio dentro da própria polícia, a família acredita que merece uma reparação pela perda dos dois familiares.