Especialistas apontam falta de políticas públicas voltadas ao meio ambiente e o enfraquecimento dos órgãos ambientais.
Fumaça e o avanço de queimadas no Acre no período de estiagem não são novidades, mas os altos números de incêndios se aproximam de um triste recorde este ano. Dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), baseados em satélites, apontam que até essa terça-feira (17), o estado acreano registrou 2.140 focos de incêndio.
O número já é maior do que todo o acumulado do ano passado no mesmo período, que fechou com 1.641 ocorrências – um aumento de 30% nos meses avaliados. Os números deste ano só ficam atrás de 2019, quando foram 2.240 registros durante o período. O ápice desse período foi em 2005 com 5.405 focos de incêndio.
As queimadas e fumaça são recorrentes todos os anos, porém, têm avançado e preocupam também por conta da pandemia, já que impactam diretamente na saúde pública por conta das doenças respiratórias.
O G1 conversou com especialistas e também com os órgãos governamentais para tentar entender o que tem tornado propício esse crescente aumento não só de queimadas, mas também do desmatamento.
Queda nas multas
Foram procurados os órgãos ambientais que atuam no estado para saber o número de autuações feitas nos primeiros meses deste ano com relação aos crimes ambientais.
O Instituto de Meio Ambiente no Acre (Imac) informou que, do dia 1º de janeiro até o dia 23 de julho, foram feitos 74 autos de infração entre multas simples, embargos e apreensões, totalizando o valor de mais de R$ 3 milhões em multa.
O número já apresenta uma queda com relação a anos anteriores. Como quando comparado com 2018, que entre janeiro a 14 de agosto já registrava pelo menos 119 autos de infração.
A redução também pode ser atribuída ao próprio posicionamento do governador do Acre, Gladson Cameli, que em um evento em 2019 pediu que as pessoas não pagassem multas expedidas pelo Imac, enfraquecendo assim a autarquia.
Durante o anúncio da “Operação Ramais do Acre 2019”, em Sena Madureira, no interior do Acre, Cameli se reuniu com diversos produtores rurais e orientou.
“Quem for da zona rural e o Imac tiver multando alguém, me avise, porque não vou permitir que venham prejudicar quem quer trabalhar. Me avise e não pague nenhuma multa, porque quem está mandando agora sou eu. Vou pedir a Assembleia, vou mandar estudar lá [Transacreana], porque não sei de tudo, pra ver como são os trâmites, mas não pague, não. Eu que tô mandando porque estão lá porque sou eu que nomeio. Não pague, quem manda sou eu”, disse ao se referir aos agentes do Imac na época.
Desde então, percebe-se enfraquecimento nas medidas punitivas no estado, por mais que o Imac negue. O instituto alega que este ano foram feitas cerca de 15 missões nos municípios de Acrelândia, Bujari, Sena Madureira, Plácido de Castro, Porto Acre, Tarauacá e Xapuri.
Uma das operações maiores se deu no município de Acrelândia no ramal Eletrônica, denominada Operação Curupira, onde os técnicos da Divisão de controle Ambiental (DCOAM) apreenderam máquinas e madeira retirada de forma ilegal.