Presidente do Haiti é assassinado em ataque, anuncia 1º ministro

O presidente do Haiti, Jovenel Moise, foi assassinado a tiros hoje em um ataque a sua residência, anunciou o primeiro-ministro interino do país, Claude Joseph. Moise tinha 53 anos.

“O presidente foi morto em sua casa por estrangeiros que falavam inglês e espanhol. Eles atacaram a residência do presidente da República”, declarou Joseph.

A mulher do presidente, Martine Moise, ficou ferida no ataque e foi hospitalizada, disse Joseph, que pediu calma à população e garantiu que a polícia e o Exército estão encarregados de manter a ordem.

Joseph condenou o que chamou de “ato odioso, desumano e bárbaro”, acrescentando que a Polícia Nacional do Haiti e outras autoridades tinham a situação no país caribenho sob controle.

Onda de violência no país
O ataque ocorreu em meio a uma onda crescente de violência política no país. Com o Haiti politicamente dividido e enfrentando uma crescente crise humanitária e escassez de alimentos, há temores de uma desordem generalizada. Na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) voltou a condenar a violência no país.

“Todas as medidas estão sendo tomadas para garantir a continuidade do estado e proteger a nação”, disse Joseph. Tiros foram ouvidos em toda a capital, Porto Príncipe.

Porto Príncipe vem enfrentando um aumento na violência com gangues lutando entre si e com a polícia pelo controle das ruas. Essa violência foi alimentada por um aumento da pobreza e da instabilidade política.

Moise vinha enfrentando protestos ferozes desde que assumiu a presidência em 2017, com a oposição o acusando de tentar instalar uma ditadura ao prolongar seu mandato e tornar-se mais autoritário, acusações que ele sempre negou.

Desde janeiro de 2020, o presidente governava por decreto, já que não houve eleições no Haiti nos últimos seis anos.

Instabilidade política
Originário do mundo empresarial, Moise tinha 53 anos de idade e governava o Haiti, país mais pobre das Américas, desde fevereiro de 2017. No entanto, ele vinha exercendo o cargo por decreto após o adiamento das eleições legislativas previstas para 2018 e em meio a uma disputa sobre quando termina seu mandato.

Nos últimos meses, líderes da oposição exigiram sua renúncia, argumentando que seu mandato terminou legalmente em fevereiro de 2021. Moise e seus apoiadores, porém, sustentam que seu mandato de cinco anos começou quando ele assumiu o cargo no início de 2017, após uma eleição caótica em 2015 que forçou a nomeação de um presidente provisório por cerca de um ano.

O empresário havia vencido o primeiro turno das eleições em outubro de 2015, porém o pleito acabou anulado e repetido em novembro de 2016, quando Moise obteve 55,6% dos votos, conquistando o cargo sem necessidade de segundo turno.

Em fevereiro deste ano, autoridades haitianas denunciaram uma “tentativa de golpe” de Estado contra Jovenel Moise, que teria sido alvo de um atentado frustrado. Na ocasião, 23 pessoas foram detidas, entre elas um juiz e uma oficial da polícia nacional.

O mandatário teve uma série de primeiros-ministros ao longo dos últimos quatro anos, e o próprio Joseph seria substituído nesta semana, após três meses no cargo, por Ariel Henry, que teria a incumbência de organizar eleições gerais.

O Haiti também tem previsto para setembro um referendo sobre uma reforma constitucional que abole o cargo de primeiro-ministro, instituindo um sistema presidencialista pleno, e abre a possibilidade de o chefe de Estado ter dois mandatos consecutivos —atualmente, é preciso respeitar um intervalo mínimo de cinco anos.

A reforma era apoiada por Moise, mas criticada por forças de oposição e organizações da sociedade civil. A atual Constituição haitiana, escrita em 1987, após o fim da ditadura de Jean-Claude Duvalier, o “Baby Doc”, proíbe a realização de referendos para modificar a Carta Magna. Os críticos também afirmam que é impossível organizar uma consulta diante do estado de insegurança no país.

UOL