Perfil das internações mudou no Acre na segunda onda da doença e atinge mais jovens que tendem a ter fase inflamatória mais intensa do que os idosos, explica médico Osvaldo Leal.
A nova onda de Covid-19 no Acre traz um componente que preocupa: cresce o número de jovens internados com a doença nos leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Os dados são dos boletins divulgados diariamente pela Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre). Gabryl Borges, de 19 anos, e Joselito Cordeiro, de 39, estão entre as vítimas jovens da Covid-19.
Conforme esses dados, pessoas de 20 a 49 anos ficam mais tempo internadas com Covid porque demoram a procurar atendimento e, a maioria, já chega em estado grave nas unidades hospitalares.
As internações de pessoas de 30 a 39 anos representam 25% em Rio Branco. Do total de mortes, 175 pacientes tinham de 20 a 49 anos e 114 tinham essa faixa etária quando foram internadas.
O jovem Gabryl Borges, de 19 anos, foi uma das vítima da doença. Ele foi internado no início de março, passou 15 dias na UTI e morreu no domingo (21). O farmacêutico Joselito Cordeiro, de 39 anos, também perdeu a batalha para o novo coronavírus e morreu nessa terça-feira (23). Ele era servidor da Unimed Rio Branco, que divulgou nota lamentando a morte dele.
“Esses pacientes mais jovens tendem a fazer uma fase que chamamos de inflamatória mais intensa do que os idosos. Fazem quadros muito graves de insuficiência respiratória e evoluem com muita gravidade. Então, temos sim uma mudança no perfil de acometimento da população nessa segunda onda, com o acometimento de pacientes mais jovens”, explicou o coordenador do Instituto de Traumatologia e Ortopedia do Acre (Into-AC), Osvaldo Leal.
O Into-AC é o maior hospital de campanha do Acre e está em funcionamento há quase um ano. Durante esse tempo, os leitos de internações foram ampliados três vezes. Antes, a idade média de internados era de 65 anos com doenças pré-existentes, mas agora a faixa etária é de 25 anos e de pessoas saudáveis.
Demora para buscar atendimento
Ainda segundo o coordenador do Into-AC, os jovens demoram mais a buscar atendimento porque têm o organismo mais resistentes que os idosos. Segundo o médio, essa resistência faz com que os sintomas demorem a aparecer e, consequentemente, a pessoa demora a buscar ajuda médica.
“São pacientes que demoram mais a procurar a unidade de saúde porque têm uma reserva funcional maior que o idoso, então, suportam algum desconforto respiratório e procuram as unidades de saúde com o quadro inflamatório bem mais adiantado. Por conta desse quadro, acabam ocupando por mais tempo a unidade hospitalar e também na UTI, são pacientes que passam mais tempo em tratamento”, destacou.
Luta contra o coronavírus
A vendedora Mislane Souza, de 27 anos, enfrenta a doença há dois dias. E, apenas nesses dois dias, a Covid-19 fez evoluir de 25 a 40% o comprometimento do pulmão dela. Devido à escassez no número de leitos, Mislane não foi internada e faz o tratamento em casa.
“Era para eu estar internada, mas não tem leito e faço o tratamento em casa. Tive que mudar a medicação duas vezes para me sentir melhor”, relatou.
Precisando de um leito, Mislane aconselha sobre o cumprimento das medidas sanitárias. “Vamos ficar em casa, se cuidar mais porque a pior coisa é chegar aqui passando mal, precisar se internar e não ter leito para você e voltar para casa”, lamentou.
G1