Números divergentes provocam questionamentos sobre a imunização contra a Covid no Acre
A senha da desconfiança foi dada pelo próprio governador Gladson Cameli, cobrando ações e unidade em torno das ações de seu governo. Foi o governador que falou que “todos são testemunhas do esforço sobre-humano que tenho tido para salvar vidas, independente de cor, raça, religião ou partido político. Reafirmo que não irei tolerar nenhuma inércia da parte de qualquer membro da nossa equipe ou conivência com as tentativas de alguns políticos de desconstrução de um árduo trabalho pela manutenção das vidas e das famílias do nosso Estado”. Revoltado com o que parece ser uma campanha de desinformação, o governo deveria apurar, entre outros questionamentos, os números contraditórios da vacinação da Covid no estado.
Gladson também afirmou que a responsabilidade da vacinação é dos municípios, mas que está apoiando com a estrutura do Estado a campanha de vacinação.
O Acre recebeu, de acordo com o a página de informação do Portal de Transparência, 51.060 doses de vacinas. Este total daria para vacinar 25.500 pessoas, reservando já a segunda dose.
Entretanto, a realidade é diferente. No mesmo portal consta que o estado distribuiu para os municípios 31.275 doses, das quais só 11. 519 foram efetivamente aplicadas, como primeira dose.
Entre as doses recebidas, um dos grupos prioritários para a vacinação nessa primeira fase é a população indígena. Na primeira remessa o estado recebeu doses suficientes para vacinar todos os índios que moram, em aldeias no estado. Seriam cerca de 25 mil vacinas para a primeira dose nas aldeias, Apesar de o Estado ter recebido vacina para todos os indígenas apenas 25% dos índios foram vacinados. As doses chegaram na primeira remessa em 19 de janeiro e 25 mil vacinas ficaram exclusivamente para as comunidades que vivem nas aldeias. Entretanto, o balanço do governo mostra que apenas 2.486 indígenas receberam a imunização até agora, segundo um dos gráficos e com a totalização alcançando, segundo outra informação, 3.101 indígenas, aí incluindo os que estão na Casa do índio em Rio Branco, os ligados à estrutura de saúde, os acamados em outras instituições. A cobertura nas aldeias varia por município, mas não passa de 40% em nenhum. Há caos como o de Sena Madureira em que nenhum índio em aldeia foi vacinado.
Autoridades alegam dificuldade de chegar nas aldeias e de vencer alguns preconceitos ligados à vacina que são incutidos nas aldeias. Uma campanha nacional está sendo feita para motivar a adesão das etnias à vacinação.
O Acre recebeu 45.560 doses da vacina coronavac e 5.500 da vacina de Oxford, da Fundação Oswaldo Cruz.
Onde estão quase 10 mil doses?
Entretanto, mesmo o portal não informando o destino dado a pelo menos 19.785 doses que foram recebidas sem serem entregues para a aplicação, o quadro efetivo da imunização apresenta números bem aquém do número de doses entregues. Eis o quadro por município da vacinação já realizada.
Esse quadro mostra, por exemplo, que Rio Branco recebeu 10.811 doses, o que daria para imunizar, se fosse reservada a segunda dose, 5.405 pessoas, mas só atingiu 3.546. Feijó recebeu 2.709 doses, o que daria para atender mais de 1.350 pessoas, mas só imunizou 907. Um dos municípios mais efetivos foi Cruzeiro do Sul, que recebeu 3.965 doses e imunizou 2.119 pessoas, não reservando a segunda dose para todas. Isso pode ser explicado para a recorrência da casos de COVID na região, praticamente fora de controle. Mesmo assim, após a prefeitura marcar vacinação pelo sistema drive trhu para idosos com mais de 90 anos e dezenas de famílias levarem os idosos de carro ao posto volante, o processo foi cancelado por falta do produto.
Na relação de vacinas recebidas não consta, ainda as doses que estavam previstas para serem entregues hoje ao estado.
Com informações A Tribuna