Indígena que morreu no Acre por parada cardíaca representava 10 aldeias

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O cacique Fernando Rosa Katukina, de 56 anos, morreu na madrugada dessa segunda-feira (1) após ter uma parada cardíaca na aldeia em que morava no interior do Acre. Segundo o Ministério da Saúde, a liderança indígena lutava há 11 anos contra diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca.

Conhecido como Kapi ijo na língua nativa, o líder representava 10 aldeias Katukinas do povo Nôke Kôi, que ficam a 56 km de Cruzeiro do Sul. O irmão dele, o também cacique Adriano Katukina, confirmou que o irmão sofria com problemas causados pela diabetes, o que piorou nos últimos dia. Há três meses, Fernando contraiu a Covid-19, segundo a família.

Representatividade

Conhecido pela luta para assegurar o direito dos aldeados, Fernando foi o escolhido, no dia 19 de janeiro, para representar os indígenas no ato que deu início a vacinação contra Covid-19 em Cruzeiro do Sul. No dia, o líder disse que a chegada do imunizante era uma vitória e defendeu que os povos indígenas tomassem a vacina.

“Primeiro quero agradecer a Deus por esse momento importante, tanto que o povo do Juruá e de todo o Brasil está esperando essa vacina. Eu, como cacique geral da etnia Nôke Kôi, sou o primeiro a tomar a vacina e vejo que isso é mais uma vitória para nós, uma renovação da nossa vida”, falou no ato da vacinação

A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), que acompanhavam de perto o quadro de saúde do cacique, destacaram que a morte não tem qualquer ligação com a vacina contra a Covid-19.

“Por isso, era acompanhado pela Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) e por especialistas. No dia 19 de janeiro de 2021, foi vacinado contra a COVID-19 e em nenhum momento foi constatada conexão entre a vacinação e seu óbito. A propagação de qualquer notícia especulativa neste momento tão importante para o combate à Covid-19 dentro das comunidades indígenas, pode ser considerada, no mínimo, irresponsável”, diz a nota do Ministério da Saúde.

Sesacre acompanha

A Secretaria de Saúde do Estado (Sesacre) informou por meio de nota assinada pela chefe do Núcleo de Imunização e Rede de Frio, Renata Quilles, que acompanha o caso e descarta qualquer ligação entre a vacina e morte do cacique.

“Foi realizado o procedimento de investigação, e pode se afirmar que a vacina é segura e continua sendo o meio necessário para reduzir o número de casos da Covid-19. Após todos os dados apurados na investigação, não apontam a vacina fator desencadeador do óbito do idoso e que os procedimentos de investigação continuam. Estão sendo feitos todos os protocolos de rotina da investigação de eventos adversos”, garantiu.

O G1 questionou a Secretaria Municipal de Saúde de Cruzeiro do Sul sobre o acompanhamento do caso, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.

Legado

O cacique Fernando tinha sete filhos e quatro irmãos que vivem nas aldeias. Ele era conhecido por sempre estar entre as associações indígenas lutando pelos direitos dos aldeados, principalmente demarcação da terra. Adriano Katukina disse que o irmão sempre vai ser lembrado pela luta em defesa dos povos que representava.

“Foi um grande líder, fez muito trabalho no povo, trabalhou em organizações indígenas, saiu candidato a vereador duas vezes em Cruzeiro do Sul, mas não foi eleito. Sempre foi uma pessoa do povo. Morreu homem, lutando pelos direitos dos povos indígenas, conquista da terra e direitos dos povos Katukinas. Perdemos uma liderança política do povo. Agora vai ser enterrado na terra que ele lutou e conseguiu conquistar.”
A Comissão Pró-Índio do Acre também usou as redes sociais para lamentar a morte do cacique e enfatizou que o líder estava debilitado há um tempo.

“Atuou em diversas frentes na proteção dos povos indígenas do Acre e desde os anos 80 é parceiro da Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre) na área de Educação Escolar Indígena, no projeto ‘Uma Experiência de Autoria dos Índios do Acre’. O professor Fernando sofria complicações de saúde em decorrência do diabetes e hipertensão. Debilitado já há bastante tempo, mas perseverante na proteção do seu povo, Fernando foi o primeiro Noke Ko’í a ser vacinado contra COVID-19, doença que o acometeu por duas vezes, segundo seus familiares Sabemos que sua luta pela vida era grande e em uma de suas contribuições para memória.

G1

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