Como sobreviver entre a fome e a Covid-19: o dilema dos acreanos

Senhor governador Gladson Cameli, quando a fome bate na porta a racionalidade sai pela outra. É o instinto de sobrevivência falando mais alto e deixando de lado qualquer discurso rebuscado.

Quando a luz da casa é cortada e o filho pequeno chora de fome não é a racionalidade que teme a Covid-19, quem fala é o desespero. Portanto, entenda aqueles desesperados com o decreto de fechamento total e clamam por um meio termo.

Na segunda-feira (1), quando o senhor governador decretou fechamento total do comércio por conta da pandemia da Covid-19, o seu discurso foi perfeito e a decisão sem maiores questionamentos do ponto de vista técnico. Do ponto de vista da sobrevivência dos moradores da Baixada da Sobral, Caladinho e todos os pobres dessa cidade a decisão foi como decreto de pré-morte. A sensação que dá, digo com propriedade, pois não sou rica, é que temos a terrível escolha de morrer de Covid ou morrer de fome.

A “acertada” decisão foi tomada, mas não são apresentadas alternativas de sobrevivência. Como viverão os acreanos em extrema pobreza? Os mesmos deputados que ladeiam o senhor em aplausos puxa-sacos com a certeza dos seus gordos salários intocáveis são os mesmos que não gastam um minuto da vida para legislar em busca de uma saída para os acreanos. Os textos lindos escritos pelo Moisés Diniz lhe defendendo saem de uma cuca fresca de quem sabe que no final do mês vai ter seu salário de mais de R$ 16 mil reais. Deve ser fácil se inspirar para escrever quando você não entrou na luta desenfreada da sobrevivência.

Governador, somos um estado paupérrimo. A extrema pobreza aumentou no Acre entre os anos de 2018 e 2019. O contingente de pobres e extremamente pobres no Acre perde para poucos estados, a começar pelo Maranhão, que lidera o ranking da miséria no País. Mais de 17,4% dos acreanos viviam com menos de US$ 1,90 (cerca de R$ 4,08) por dia. Esse percentual subiu para 18,9% em 2019. Os dados são do Banco Mundial e ainda não foram atualizados em 2020 onde com certeza a situação piorou.

O seu discurso pela vida é lindo, louvável e aplaudido por assessores que no final do mês terão seus pagamentos nas contas. Eu entendo isso, inclusive, os aplausos na maioria fingidos.

Realmente a luta contra a Covid-19 é importante, mas igualmente importante é a luta contra a fome. É a luta pela sobrevivência.

Tanto recurso já veio para o combate à Covid que seria bom buscar recusos contra a forme que impõe pânico aos acreanos.

Eu sei o que é ter a luz cortada, olhar para os lados em busca de solução e não tenho a fórmula para apresentar ao senhor. Na verdade ando sem tempo para pensar como o Moisés, seu escriba, porque ando atrás de parcelar impostos, pagar colaboradores e não ficar sem luz. Na verdade essa é realidade da maioria dos pequenos empresários que teimam contra tudo e contra todos para crescer e, consequentemente, ajudar o estado a crescer. Se tivesse uma ideia eu a daria, mas sei da sensação de quem está do lado de cá, com medo dos dias futuros.

Governador, o Acre pede Socorro! Fechar totalmente o comércio mata a esperança de muita gente. Ache um meio termo.

A teoria das necessidades humanas de Maslow diz que na pirâmide das necessidades que culmina com a realização pessoal o que grita mesmo, a base, são as necessidades fisiológicas como alimentos, roupa, repouso e moradia.

Que Deus nos livre da Covid, que, inclusive, já peguei e passei 30 dias acamada, e nos livre também da falência e da miséria.

*Gina Menezes é jornalista, colunista política e sócia-fundadora do jornal Folha do Acre