Casos de dengue aumentam em quase 1000% em Rio Branco nos primeiros dias de janeiro

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Levantamento da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) mostra que já é preocupante o aumento de casos de dengue em todos os municípios do estado, mas principalmente, em Rio Branco, onde há maior população do estado. Os dados do Núcleo de Transmissão Vetorial, da Sesacre, mostram que nas primeiras três semanas epidemiológicas de 2021, houve um aumento de mais de 950% no número de casos prováveis da doença ante igual período de 2020.

‘Casos prováveis’ são aqueles em que as pessoas apresentam os sintomas da doença, mas ainda não sabem do resultado, se descartada ou confirmada a doença. Do dia 3 de janeiro ao último dia 23 do mesmo mês, o período das três semanas epidemiológicas de 2021, Rio Branco registrou impressionantes 1.387 casos da doença. Esse aumento de quase 1000% no número de casos é observado quando se compara com o mesmo período de 2020, que registrou apenas 123 casos prováveis de dengue, em toda a capital acreana.

“É um número muito alto, e ao que parece, a situação está fugindo do controle da nova administração municipal”, alerta um enfermeiro da UPA Franco Silva, na Baixada da Sobral, para onde a maior parte das pessoas acometidas está indo buscar atendimento. Além da UPA, a Unidade de Referência da Atenção Primária (Urap) Augusto Hidalgo de Lima, no bairro Palheiral, localizada a menos de 50 metros da Unidade de Pronto Atendimento Franco Silva, também vem atendendo pacientes com dengue.

Ali, no dia 7 de janeiro, OPINIÃO constatou que pelo menos 10% dos pacientes que chegavam à unidade estavam acometidos pela dengue. Na ocasião, a coordenadora interina, Carlessandra Marques, explicou que das pouco mais de 25 fichas distribuídas, em média, por dia, para atendimento médico, “sete ou oito são de pessoas com suspeitas de contaminação por dengue”.

No início do mês, o secretário Municipal de Saúde, Frank Lima, anunciava que a Prefeitura de Rio Branco estava no aguardo do relatório do Levantamento de Índice Rápido para o Aedes aegypti, o LIRAa, mecanismo que permite monitorar o vetor da dengue, revelando onde está sendo o maior foco do mosquito transmissor. A ideia, segundo o gestor, era a de que, de posse dos dados, a sua pasta atuaria com mais precisão nas regiões de maior infestação do mosquito. Mas depois disso, não se ouviu mais falar sobre o assunto.

Ao que parece, falta para o novo prefeito, Tião Bocalom (Progressistas), o senso de que uma comunicação em massa, que fale direto para a população, é fundamental, se fazendo necessária com máxima urgência, seja por meio de outdoors, seja por panfletos e folderes. A população deve colaborar com o Poder Público, como agente principal de redução no número de contaminações.

A importância do envolvimento coletivo para que seja interrompida a tendência de aumento de casos é fundamental neste início de janeiro, entendem os trabalhadores em Saúde consultados. “Pelo que estamos observando neste momento, tudo indica que caminhamos para uma epidemia igual a ocorrida em 2009”, havia alertado um trabalhador em saúde da Urap Augusto Hidalgo de Lima, ouvido sob a condição de anonimato.

As chuvas constantes neste período de inverno estão favorecendo à formação de poças d’água e charcos nos quintais e áreas abandonadas ou mal cuidadas, que favorecem à criação do mosquito. As larvas do mosquito são depositadas em superfícies com água empoçada e parada, causando a sua proliferação, que por sua vez, vai infectar as pessoas. Daí, a necessidade de uma ação mais enérgica também dos agentes de endemias, que fazem parte das secretarias municipais de Saúde.

Risco de epidemia é real em Rio Branco

Se a nova gestão do prefeito Tião Bocalom não tomar medidas enérgicas de combate à dengue, a doença poderá tornar-se em muito breve numa epidemia de proporções só registradas em 2009, quando então no final do primeiro semestre deste mesmo ano, o Acre contabilizava ao menos 15.999 casos, com 111 complicações graves, 13 casos do tipo dengue hemorrágica e 3 mortes.

O alerta é de profissionais de Saúde ouvidos pelo OPINIÃO, que estão na frente do combate à dengue e à covid-19 ao mesmo tempo, nas unidades de saúde do município. Muitos vivenciaram diretamente aquele período, no auxílio às vítimas, pouco mais de onze anos atrás.

A importância do envolvimento coletivo para que seja interrompida a tendência de aumento de casos é fundamental, entendem os trabalhadores em Saúde consultados. “Pelo que estamos observando neste momento, tudo indica que caminhamos para uma epidemia igual a ocorrida em 2009”, adverte um epidemiologista ao OPINIÃO.

Naquele ano, o maior pico de casos aconteceu em fevereiro e março, quando foram enfatizadas ações conjuntas entre o governo do Estado do Acre e as prefeituras para reverter o quadro emergencial.

“É preciso que as administrações públicas não esqueçam que além da dengue, o mosquito aedes aegypti também transmite o vírus da zika e da chikungunya. Por isso, as pastas da Saúde devem redobrar as orientações e as visitas técnicas para intensificar as ações de prevenção e controle das doenças”, havia alertado um médico especialista ouvido em outra reportagem do OPINIÃO, publicada ainda no dia 5 de janeiro.

Bairros como o João Eduardo, Bahia Nova e Velha e João Paulo, regiões superpopulosas que estão dentro da região da Sobral, são locais de atenção para os casos de dengue. Já na parte alta da cidade, em bairros como o São Francisco, Vitória e Eldorado, é possível observar algum avanço, com homens da Secretaria Municipal da Zeladoria da Cidade (SMZC) trabalhando na retirada de entulhos, enquanto picapes da prefeitura espalham o fumacê pelas ruas de alguns conjuntos habitacionais.

“É preciso agir, e rápido”

Dois fatores podem estar influenciando um aumento dos casos. O primeiro deles tem a ver com a própria pandemia de covid-19, que pode ter tirado as secretarias de Saúde do foco da doença. O segundo seria por conta do próprio período de transição entre as administrações municipais, com os novos prefeitos ainda tentando ‘se acharem’, por assim dizer, com suas equipes

O ideal é que os novos gestores que estão chegando após as últimas eleições de dezembro tenham consciência de que devem atuar o mais rápido possível. Além do ‘desaparecimento’ dos agentes de endemias, as campanhas de TVs, no rádio e nos outdoors pelas ruas também estão ausentes.

“Sabemos que as pessoas precisam ajudar o poder público. São elas que moram nos locais e por isso, são elas que mais devem ter consciência de que não se pode deixar nada desorganizado para que o mosquito vá colocar os ovos. Mas as autoridades também não podem ficar de braços cruzados”, entende Maria Correia de Assis, moradora do bairro Oscar Passos. “É preciso mais divulgação”, acredita ela. A reportagem tentou contato com a Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do município de Rio Branco, mas não obteve retorno.

Comunidade também precisa ajudar

Já que o ovo do aedes aegypti pode sobreviver até cerca de 450 dias em baixa umidade, impedir a proliferação dele deve começar combatendo os principais criadouros do mosquito, que estão nos quintais das casas. A tarefa é higienizar.

“Os focos estão, na maioria das vezes, no ambiente domiciliar, seja em depósitos de armazenamento de água (principal criadouro), seja em pequenos utensílios jogados nos quintais e que ficam acumulando água”, explica Márcia Andréa Morais, técnica do Núcleo de Transmissão Vetorial, da Sesacre.

É preciso eliminar o lixo, e principalmente qualquer recipiente que possa acumular água. No caso de caixas d’águas e tambores, deve-se trocar a água pelo menos uma vez por semana.

Caixas d’águas e tambores devem ser higienizados com água sanitária, escova ou palha de aço.

A Sesacre tem enviado notas de alerta aos municípios, solicitando a intensificação das ações de prevenção e controle, destacando a participação de todos. “Se cada um fizer a sua parte, o Acre poderá reduzir drasticamente o risco de registrar aumento de casos e óbitos por dengue, zika e chikungunya”, diz Andréa Morais

Opinião

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