Folha do Acre

A precoce morte de Giliard Souza e a nossa missão de lutar contra a Covid-19

Por

 

Assim que a pandemia permitisse ele iria fazer uma viagem com o irmão mais velho, Gilson Souza, o Bil. Queria mostrar ao irmão mais velho um pouco das belezas do mundo. Tinha decidido também ampliar o escritório de advocacia e já havia começado o recrutamento de mais 3 profissionais. Ele também tinha em mente, segundo o irmão Isaac, o plano de mais uma especialização. Crescer, aproveitar a vida e ser generoso com parentes e amigos sempre foi uma marca do advogado Giliard Souza.

Desde a infância de menino pobre do bairro Aeroporto Velho, onde frequentou a Assembleia de Deus e aprendeu sobre fé e ousadia, que Giliard era mistura de audácia, determinação e esperança. Foi tomado por essa esperança de dias melhores e com determinação que ele saiu da Baixada da Sobral para se tomar um renomado advogado. Era até estranho ver o Gi naqueles ternos de advogado, pois eu era acostumada com o garoto que sentava ao meu lado no banco da igreja, que frequentava minha casa e era o queridinho da minha irmã Fátima Rios, que o tinha como um parente.

A viagem com o Bil, o escritório ampliado e o sonho da construção da casa própria tiveram um ponto final no último sábado (13) quando ele, aos 39 anos, foi declarado morto em decorrência de complicações da Covid-19. É nessas horas que a pandemia toma forma, se personifica e nos deixa a todos perplexos diante da brutalidade da morte que põe fim a tudo.

Desde o dia 17 de março de 2020 quando recebemos a primeira notícia de infecção pelo novo coronavírus no Acre que nossas vidas mudaram drasticamente. De repente parece que passamos a viver em um filme de ficção científica. Só que com o roteiro real um pouco pior. As máscaras nos sufocaram, as más notícias pesaram no nosso coração.

Uma pena que ainda existam negacionistas. Ah se eles soubessem como tudo pode acabar em tão pouco tempo. Da notícia da entubação do Gi, era assim que os amigos da igreja o chamavam, até sua morte cerebral foram poucos dias. De início a gente acreditava piamente na recuperação dele. Jovem, saudável. Ele poderia vencer, mas não venceu. A doença é traiçoeira e não escolhe idade.

Na quinta-feira (11), quando ele teve um sangramento cerebral a apreensão aumentou e quando o médico Thor Dantas falou da morte cerebral foi como se tivessem contando uma história de uma realidade paralela. Como? Mas ele corria, era jovem, saudável, como?

Ninguém sabe como. Sabemos apenas que a Covid-19 é uma doença traiçoeira, que não discrimina idade ou cor e que todos nós devemos redobrar os cuidados.

Já perdi 3 amigos próximos para essa maldita doença. A verdade é que tudo isso só se tona real quando acontece com alguém próximo. Quando minha amiga Antônia Elin morreu aos 40 anos eu achei que não iria suportar, afinal éramos amigas desde os 13 anos. Depois foi o Dirceu que partiu e ainda custo acreditar que não vou mais encontrá-lo nas reuniões da vida, ele com seu excelente bom humor. E agora foi o Giliard. Não foi só o Giliard Souza, foi o Gi, o filho da irmã Dalva, o garoto que cantava na igreja. Eles eram parte da minha história.

Espero que você que esteja lendo isso não espere perder um amigo ou parente para saber que estamos diante de uma séria pandemia. Não descuide, não tire a máscara. Aguente mais um pouco. Seja resistência a essa Covid. Evite aglomerações, festas clandestinas. Lute pela vida.

*Gina Menezes é jornalistam colunista política e sócia-fundadora do jornal Folha do Acre

Sair da versão mobile