Desde a última sexta-feira (8), o presidente dos Estados Unidos Donald Trump não conta mais com seu principal meio de comunicação: sua conta no Twitter. O acesso ao perfil, seguido até então por mais de 88 milhões de pessoas, foi banido pela rede social, e todas as postagens foram tornadas indisponíveis.
A decisão – de influência e repercussão inéditas – ajudou a derrubar as ações da empresa em até 12% nesta segunda-feira (11). Os perfis de Trump também foram banidos em redes como Facebook (que também controla o Instagram e também viu suas ações desvalorizarem), Snapchat, Twitch e outras.
A ação reforçou o debate sobre se a mesma medida poderá ser tomada contra outras autoridades.
Segundo o Twitter, a exclusão da conta do presidente americano foi motivada por dois tuítes escritos na última sexta (8), dois dias após a invasão do Capitólio. Leia aqui – em inglês – os motivos do banimento.
“Os 75.000.000 de grandes Patriotas Americanos que votaram em mim, AMÉRICA PRIMEIRO e FAZER A AMÉRICA GRANDE NOVAMENTE, vão ter uma VOZ GIGANTE por muito tempo no futuro. Eles não serão tratados injustamente em nenhuma maneira, formato ou forma”
Em outra mensagem, Trump esclareceu outro ponto: “A todos aqueles que perguntaram, eu não irei à cerimônia de posse em 20 de janeiro”.
Para o Twitter, a menção do presidente à “VOZ GIGANTE por muito tempo no futuro”, assim como à garantia de que seus eleitores não seriam desrespeitados, seria uma forma do republicano afirmar que não facilitaria uma transição ordeira – como deu a entender no dia anterior.
Para a rede social, as publicações indicaram que Trump pretende proteger aqueles que acreditam que ele venceu a eleição. Os analistas do Twitter também viram na fala de Trump sobre a posse uma ameaça de que o evento não será seguro.
As mensagens de Trump seriam uma infração à “Política de Glorificação da Violência” da rede social: “não se pode ameaçar violência contra um indivíduo ou um grupo de pessoas. Nós também proibimos a glorificação da violência.”, diz a norma da plataforma.
A punição foi o capítulo mais relevante de uma ação de conflito entre o Twitter e Trump que começou em meados do ano passado. Para evitar que Trump se valesse de tweets para passar informações falsas ou distorcidas, a curadoria do site passou a incluir, nas próprias mensagens, comunicados contradizendo ou esclarecendo o que havia dito o presidente. Apenas na última semana que o Twitter passou a restringir o alcance das mensagens de Trump, impedindo que elas fossem curtidas, comentadas ou compartilhadas.
Em linhas gerais, a conta de Trump foi suspensa a partir de argumentos como o questionamento da legitimidade das eleições, indicação de uma transição conturbada e o possível encorajamento de atos violentos por parte de seus apoiadores. Todos esses ingredientes são pautas recorrentes no Twitter do presidente Jair Bolsonaro.
Trump dos trópicos
Poucas horas após a invasão do Capitólio, Bolsonaro reafirmou, novamente sem apresentar provas, que há fraudes no sistema eleitoral brasileiro e que se o voto impresso não for implementado, são grandes as chances de que se repita no Brasil o que aconteceu nos Estados Unidos.
A declaração foi dada a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, não no Twitter. Porém, se Bolsonaro mantiver esse tom na rede social, estará afrontando diretamente temas que foram decisivos para a exclusão de Trump.
Além de questionar o resultado das eleições e indicar uma eventual transição conturbada, Bolsonaro já demonstrou, diversas vezes, no mínimo desconsiderar a regra de glorificação à violência – e aí dentro do próprio Twitter.
A rede social já tomou, anteriormente, ações contra o presidente Bolsonaro. Em março do ano passado, o Twitter apagou uma postagem do presidente que mostrava fotos suas em uma visita às cidades-satélites de Brasília. A plataforma tomou a decisão de excluir o conteúdo porque este iria contra os preceitos da saúde pública.
Na rede social, houve quem interpretasse os seguidos ataques de Bolsonaro à esquerda e à imprensa como um maneira de “ameaçar violência contra um indivíduo ou um grupo de pessoas”.
Ainda durante a campanha de 2018, o presidente buscou insinuar as intenções do Foro de São Paulo, organização de partidos de esquerda da América Latina. Para o presidente, os membros que integram o grupo são “este perigo que destrói o Brasil há décadas”. A imagem incluída na mensagem define o Foro como “o maior inimigo do Brasil”.
Congresso em Foco