Centro de Atendimento ao Autista de Rio Branco perde R$ 500 mil e enfrenta abandono na pandemia

Praticamente 1 ano após ter suas atividades paralisadas, o Centro de Atendimento ao Autista Mundo Azul segue com suas atividades suspensas, sem adequação à legislação de pandemia, sequer garantindo teleatendimento e colocando em risco a saúde de centenas de autistas que podem regredir em seus tratamentos, ficarem mais agressivas e até se mutilarem.

Enquanto os centros de atendimentos particulares, para os que têm dinheiro, seguem seus atendimentos, os menos favorecidos são entregues à própria sorte. Com quase 1 mês da nova gestão, liderada pelo progressista Tião Bocalom, sequer há pessoas nomeadas para atender no Centro de Atendimento ao Autista, que funciona em anexo ao Barral y Barral e que é de responsabilidade da municipalidade.

Apesar do importante papel de inclusão que desempenha, infelizmente os autistas ainda são deixados à margem das gestões. Além da atual gestão sequer ter nomeado uma única pessoa para atender no centro que deveria ser referência, o Mundo Azul amarga a derrota da gestão passada ter perdido R$ 500 mil reais de emendas alocadas que foram devolvidas por falta de aplicação, embora sejam evidentes as muitas necessidades do local.

A reportagem da Folha do Acre entrevistou o presidente da Associação da Família Azul, Abraão Púlpio, que confirmou o abandono que se encontra o Centro de Atendimento a Autistas.
Implementando pela Prefeitura de Rio Branco em outubro de 2019, o Centro de Atendimento ao Autista Mundo Azul está fechado desde o início da pandemia em março de 2020, afirmou o presidente da associação.

Além de estar fechado, o presidente da associação denuncia ainda que nenhuma adequação foi feita para que ao menos atendimentos parciais fossem realizados.

“Hoje nada está funcionando, nem mesmo o que poderia ser realizado, os atendimentos parciais ou teleatendimentos, seguindo cuidados sanitários, estão sendo feitos. O prejudicado são os que precisam de atendimentos e cujas famílias não possuem dinheiro para recorrer a rede particular”, diz.

Enquanto a rede particular segue atendimentos em tratamentos aos autistas, o centro de Rio Branco não tem sequer sido notado pela nova gestão.

“Tenho informações que até o telefone do Mundo Azul, que fica no Barral, está cortado. Os pais ligam para obter informações e ninguém atende. Várias pessoas exoneradas no fim de 2020, e até agora ninguém respondendo. Ninguém pode legalmente assinar nada lá. Estamos aguardando o parlamento municipal voltar para que possam mediar reunião com o Prefeito Bocalon. E com o secretário de Saúde Frank”, diz Abraão Púlpio.

O descaso que vive o Centro de Atendimento a Autistas parece não ser de hoje. A gestão passada perdeu meio milhão de reais que deveriam ser usados para melhorar o espaço e o atendimento.

“O deputado Manoel Marcos alocou cerca de R$ 500 mil em 2019, liberados para 2020. Mas a gestão passada não conseguiu usar, faltou organização, não da coordenação do Centro Mundo Azul, mas da própria Secretaria de Saúde (SEMSA)”, diz.

Enquanto o poder público segue ignorando os autistas, corre-se o risco de se agravar o caso de alguns portadores da síndrome.

“Sem terapia as crianças podem ficar agressivas. Se automutilar. Agredir pais e cuidadores. Não aprendem. Não se concentram. Grandes problemas continuam os mesmos há muitos anos: postos de saúde não tem carbamazepina, risperidona, zaap nem ácido valproico; demora na realização de exames; os laudos dos EEGs são de péssima qualidade, pelo equipamento e pelo laudo que não é feito por neurofisiologista. Não existe terapia para grande maioria dos diagnósticados: não tem fono, TO, psicopedagogia, psicóloga nem fisioterapia para paralisados cerebrais. As filas de espera para terapias não tem transparência e são quilométricas”, diz Púlpio.