A quem interessa Aleac e Câmara de Rio Branco sem sessões presenciais? A democracia corre perigo

Pressupõe-se que democracia é um sistema onde o povo exerce a soberania e que a imprensa é a vista da nação, como dizia Ruy Barbosa. Porém, é difícil o povo ser soberano em um sistema onde passa às margens e fica ainda mais difícil para a imprensa ser a vista da população quando tudo se passa longe dela. Tem sido exatamente assim que tem sido no Acre no último ano com a desculpa da pandemia e o fim das sessões presenciais na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) e na Câmara de Vereadores de Rio Branco.

O que antes já era resolvido debaixo de sete chaves passou a ser ainda mais nebuloso pelo ambiente virtual, sem os debates necessários e sem a transferência que deveria ter. Um ano legislativo foi encerrado, um orçamento exdrúxulo foi aprovado sem que houvesse a menor fiscalização. Tem sido uma espécie de paraíso para os parlamentares que não gostam do bedelho da imprensa em tudo e nem do escrutínio popular.

Estranho o fato da Câmara de Rio Branco e a Aleac iniciar o ano legislativo em modo virtual enquanto seus parlamentares ‘andam mais que notícia ruim’ quando estão em busca de votos como aconteceu em recente eleição. Eles têm feito tudo, menos se isolar por conta da Covid-19. Se podem estar nos quatro cantos do Acre, então por que os parlamentares não podem retomar a seus postos de trabalho com álcool em gel, distanciamento necessário e protocolos sanitários em dia?

O que impede um vereador de trabalhar em um ambiente seguro, de distanciamento necessário como a Câmara? Porque os deputados não voltam a trabalhar do imenso prédio da Assembleia Legislativa do Acre onde conseguem manter o distanciamento sem qualquer problema? Não voltam porque é conveniente o ambiente virtual, conveniente ficar longe da imprensa, conveniente “trabalhar” como lhes der na telha. Quem perde com isso tudo? A população. A população que tem um parlamento cada vez mais omisso, mais as margens, menos comprometido.

Há menos de 3 meses os vereadores estavam nos quatro cantos de Rio Branco, abraçados a eleitores, em passeatas e vivendo como se não existissem uma pandemia durante a eleição, mas agora se recusam a voltar a seus postos de trabalho dentro de uma câmara segura e com espaço para distanciamento. Algo está terrivelmente errado e precisa ser resolvido.

Os parlamentares, estaduais e municipais, precisam dar as caras e explicar esse isolamento seletivo em que podem trabalhar em campanhas, mas optam por sessões virtuais durante o mandato. Estamos diante de uma nova realidade e precisamos vigiar para que a nossa democracia não entre em vertigem diante da Covid e das desculpas dadas em nome dela.

*Gina Menezes é jornalista, colunista política e sócia-fundadora do jornal Folha do Acre