Pesquisa identifica nova espécie de jacaré que viveu na Amazônia há 10 milhões de anos

Resultado de estudos em fóssil achado há 25 anos foi publicado na semana passada. Espécie era desconhecida pela ciência.

O material analisado foi um fóssil do focinho de um jacaré encontrado no Rio Purus, que faz divisa entre o Acre e Amazonas, em 1995. Desde então, a pesquisa foi minuciosa para descobrir se o fóssil se tratava de uma nova espécie, o que foi confirmado. O artigo foi publicado no último dia 11 na revista Zootaxa.

As pesquisas foram lideradas pelo paleontólogo Jonas Filho, da Universidade Federal do Acre, e Dra. Lucy Gomes de Souza, do Museu da Amazônia.

As parcerias foram feitas com seis instituições: Laboratório de Pesquisas Paleontológicas em Rio Branco e Cruzeiro do Sul (Ufac); Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Laboratório de Estudos Paleobiológicos (Universidade Federal de São Carlos); Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Museu da Amazônia (Musa), de Manaus.

Espécie nova identificada seria ‘tataravô’ do jacaré-açu — Foto: Divulgação/Ibama

 

‘Tataravô do jacaré-açu’
“É um material que foi encontrado, foi identificado como sendo importante para estudo, mas que precisava elaborar a ideia que tínhamos inicialmente que se trataria de uma espécie nova para a ciência, mas, sendo parecido com um gênero atual que é o jacaré-açu. Por isso, tenho chamado ele de tataravô do bicho atual porque é uma linhagem lá atrás que resultou no bicho recente”, explica o paleontólogo Jonas Filho.

Tanto que, segundo a pesquisa, o animal naquela época tinha hábitos alimentares parecidos com o jacaré-açu, baseado em peixes, répteis e mamíferos de pequeno a médio porte.

Além disso, ele tinha dentes posteriores mais baixos e arredondados que os permitiam comer animais como tartarugas e crustáceos. Sobre o tempo de pesquisa, Filho explica que a ciência não tem respostas imediatas e que é um longo caminho até descobrir e estudar todos os detalhes. Foram 25 anos buscando parcerias e tornando o material robusto para que a espécie inédita fosse reconhecida. “Por fim, tudo isso resultou em uma descrição de uma espécie nova para a ciência de um jacaré que viveu aqui na Amazônia entre 8 a 10 milhões de anos atrás”, pontua.

Local onde fóssil foi achado seria um grande pantanal na época que o jacaré habitava o espaço — Foto: Reprodução

‘Grande pântano’
Nesta época, segundo o pesquisador, a área de fronteira onde o fóssil foi achado era grande pântano. O estudo aponta que ele podia ser encontrado entre o sul do Amazonas e norte do Acre.

“Estes animais estavam presentes em um momento muito diferente do atual, que não se tinha floresta, mas sim muitos lagos, podemos dizer que era um mega pântano. Uma ecologia formada no momento que os Andes estavam se erguendo, então, tudo que era de água de drenagem descia para a bacia. Tínhamos um imenso pantanal e esse era mais um dos vários jacarés que viveram aqui naquela época e não tinha sido identificado pela ciência ainda.”

O nome científico com o qual o animal foi batizado é uma homenagem ao Dr. Edgardo Latrubesse, que é um importante geomorfólogo argentino que estudou durante décadas a região Amazônica tentando entender a evolução dos ambientes passados.

“A gente estuda a evolução da geologia na região, a evolução das formas de vida, para entender melhor o nosso presente. E estas pesquisas são resultado de um trabalho com esforços de pesquisadores da Universidade Federal do Acre com colaboração de outros pesquisadores de outras instituições, porque quanto mais pessoas você envolve em um trabalho de pesquisa, mais forte ele fica, mais sustentado, diante de uma pessoa que tente dizer o contrário”, destaca.

Cada detalhe do fóssil achado no Acre foi estudado por 25 anos — Foto: Reprodução

Ufac se destaca
Filho lembra ainda a importante contribuição que o Museu de Paleontologia da Ufac. Paleontologia da Ufac vem dado a estudos relacionados à Amazônia.

“Esse trabalho consolida uma demonstração de que o laboratório de pesquisas paleontológicas se transformou no maior centro de pesquisas de paleontologia da Amazônia. Não existe nenhum acervo e nem resultados tão positivos na Amazônia como neste espaço”, finaliza.

G1