Após 10 anos, mulher no AC que teve diagnóstico de infértil comemora gravidez do 1º filho

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Após 10 anos de tentativas e passar por vários tratamentos para engravidar que não deram resultado, a funcionária pública Kamila Costa, de 36 anos, de Rio Branco, havia parado de tentar e achar que ser mãe não seria para ela e, como ela mesmo diz, descansou. Mas, foi nesse momento que a vida lhe reservou a grande surpresa da sua história; a chegada de um bebê.

Em uma luta travada por meio de tratamentos há oito anos, Kamila chegou a criar o movimento “Toda mulher tem o direito de ser mãe”. A campanha tinha como objetivo quebrar tabus e abrir uma discussão política e social sobre tratamento para mulheres que têm dificuldade para engravidar. Pedia que os tratamentos para possibilitar a gravidez fossem tratados como uma questão de saúde pública.

Além disso, o tema virou tese de mestrado e, até hoje, o trabalho é fonte de pesquisas para elaboração de leis.

Diagnosticada com sinéquia uterina [cicatrizes no útero], ovário policístico e endometriose [inclusive, teve dificuldades para conseguir um diagnóstico] Kamila fez tratamento no Acre e outra parte em Fortaleza, no Ceará. E além destes problemas que causam infertilidade, durante o tratamento ela teve uma lesão no útero, o que dificultava ainda mais a situação. Hoje, ela caminha para o quarto mês de gestação.

“Foram oito anos de tratamento, mas, eu já vinha tentando dois anos antes. Comecei com tratamentos experimentais, naturais, depois medicamentosos até chegar a fertilização in vitro”, contou sobre os anos de luta.

A descoberta da gravidez
Apesar de todo o sofrimento, viagens para fora do estado, gastos financeiros e o fim de uma relação que já durava 15 anos, Kamila mal sabia que 2020 havia lhe preparado a grande surpresa de sua vida.

Bom, mas, surpresa só é surpresa quando você não está esperando, e a servidora pública não estava mais na corrida para conseguir engravidar por meio de tratamentos, quando começou a sentir os sintomas. Por um momento, ela chegou a pensar que estava doente e suspeitou até de um câncer, porque já tinha feito cirurgia para remover dois cistos.

Por conta disso, Kamila ia tomar um medicamento para fazer a menstruação ‘descer’. Só que antes de qualquer atitude, ela decidiu fazer o teste, mas sem nenhuma expectativa. O que ela queria era descartar a possibilidade para iniciar o tratamento.

“E, surpreendentemente, deu positivo e vi que todos aqueles sintomas não eram doença, como eu achava. Foi um ano bem atípico, uma surpresa. O atraso menstrual não me assustava porque era comum acontecer, sempre convivi com a amenorreia, que é a ausência da menstruação. Só que eu estava sentindo muitos sintomas da gravidez: enjoada, seios doloridos, vomitando e com muita prisão de ventre. Então, eu achava que estava doente. Não imaginei que era gravidez”, contou.

‘Milagre’
Sem ter conhecimento de casos semelhantes ao de Kamila, a médica ginecologista e obstetra Samara Messias falou ao G1 que as chances de gravidez, em mulheres que apresentem algum destes problemas – sinéquia uterina, ovário policístico e endometriose – varia de 30% a 40%.

“Não tem nenhum caso que una as três coisas juntas. O que encontrei foi que, mesmo quem tem ovário policístico, para uma mulher engravidar é de 34%, se ela tiver acima de 35 anos essa chance cai muito. Se ela tem sinéquia uterina só resolve depois de fazer o tratamento para desfazer essas cicatrizes e se ela ficar com sequela a chance também é baixíssima, em torno de 20% a 30%. A endometriose é a mesma coisa, e a chance de gravidez gira em torno de 40%”, explica.

A médica diz que em nenhum destes três casos é impossível a gravidez quando se olha separadamente. Mas, a raridade do caso está no fato de a servidora pública ter os três problemas juntos.

“Porém, hoje não encontramos o relato de caso que tenha tudo em uma mulher só, ainda mais em uma gravidez espontânea. Ainda tem outra situação, que é ela ter mais de 35 anos, então a chance de gravidez reduz muito mais do que quando a gente considera antes dos 35. Então, a gente considera uma raridade. Um milagre, é Deus purinho nisso. Fiz uma busca e não encontrei registro, é uma raridade”, acrescentou.

A surpresa
Agora que já passou o momento da surpresa, a mamãe de primeira viagem está aproveitando todo o momento de início da gestação e recebendo o carinho da família que acompanhou todo a batalha.

“Já estive mais ansiosa, mas, estou mais tranquila depois que vi que está tudo bem. E, agora, estou tentando viver o que toda mulher vive na gravidez. Na verdade, quando você faz fertilização você não tem a surpresa, não tem aquela coisa de contar para as pessoas e eu achava que um dia ia sentir falta disso. Mas, Deus me proporcionou isso. Tive a chance de fazer um teste de farmácia como toda mulher, fazer a ultrassom e ver o coraçãozinho e isso me deixa extremamente emocionada”, relata.

Kamila diz que “foi bem inesperado”. Ela conta que não estava fazendo nenhum tipo de tratamento. Usava óleos essenciais, mas não para engravidar, e sim para melhorar a condição hormonal.

“Fiquei muito surpresa, muito feliz, ainda com muito medo devido aos traumas do passado, mas agora estou mais confiante e, graças a Deus, está tudo bem com o bebê e com a gestação. Está todo mundo feliz e querendo participar de alguma forma, na expectativa de ver barriga crescer, me pedem fotos. A família do meu marido não mora no Acre e eles vivem pedindo foto, fazem vídeo chamada para ver”, acrescenta.

Infertilidade
Com toda a luta que passou, o desabafo da Kamila é que não é fácil conviver com a doença e com as pressões sociais.

“Conviver com a infertilidade é muito difícil, porque você tem o desejo de ser mãe, tem a pressão social de que a maternidade é muito romantizada, é algo que toda mulher almeja que é concepção e que tinha que ser algo natural e bom para todo mundo. A partir do momento que a gente passa conviver com a infertilidade é difícil. A gente recebe o julgamento da sociedade, tem a questão religiosa que vê a infertilidade como maldição e concepção como benção, então a gente se sente até amaldiçoada de certa forma”, desabafa.

Os tratamentos foram difíceis, caros, longos e dolorosos. Ela chegava a tomar quatro injeções na barriga por dia, medicação extremamente cara, que não tinha no estado e precisava mandar buscar fora. Às vezes, o tratamento era comprometido pela ausência de medicação e, mesmo assim, ela tentou incansavelmente.

“A minha condição reprodutiva era tão grave que até para uma fertilização era difícil. Receber todos esses diagnósticos é dolorido, eu viajava para fortaleza, ficava longe da família, fiquei endividada e no final não consegui realizar o sonho, até que descansei. Achei que não era pra ser, que essa não era a vontade de Deus para a minha vida e passei a sentir ainda esse desejo, mas de maneira mais tranquila, mais consciente”, relembra.

Mas, agora, todo esse sofrimento faz parte de sua história, que deu uma virada. E ela aguarda receber nos braços, em breve, o filho que tanto sonhou. Ela conta que ainda não comprou nada para o enxoval e aguarda saber o sexo do bebê para começar os preparativos.

 

G1 AC

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