Nunca foi fácil ser mulher. A misoginia não é só um conceito vago, ela é uma prática cruel, que mutila, segrega e faz doer na alma das mulheres. Socorro Neri é a única mulher candidata a prefeita de Rio Branco. Os outros seis candidatos, mesmo com suas diferenças, se confraternizam nos finais do debate, batem nas costas uns dos outros, revivem os milenares Clubes do Bolinha. No debate de sábado (7), exibido pela TV Gazeta, o que surgiu na tela da TV foi uma Socorro exausta, com cara de que não dorme um verdadeiro sono há dias, voz lenta, tentando a todo custo se manter no ringue e sair das cordas onde os seus adversários a jogam, mesmo que involuntariamente.
O pó branco passada na candidata deu a ela um aspecto translúcido e por momentos achei que ela não fosse se manter de pé até o final. Ela é a atual prefeita, tem a máquina na mão como costumamos dizer e, portanto, é normal que seja a mais questionada. Até aí, tudo normal. O que não é aceitável é que os gestos sejam levados por candidatos e militância para além da arena política.
Um gesto salvou a noite que coroou a palidez de Socorro e a misoginia disfarçada de mil formas. Um dos principais críticos de Neri, o empresário Jarbas Soster (Avante), a tirou do momentâneo isolamento oferecendo um sorriso e uma conversa amistosa como deve haver entre rivais. Foi um gesto, não uma aliança, e ele certamente continuará criticando o que vê de errado na gestão. Mas o gesto foi belo e honrou a educação que a dona Maria Soster deu a ele de valorizar a força das mulheres, afinal a própria dona Maria continua à frente de muitos negócios da família Soster. Que o gesto de Soster seja replicado.