Graça Rocha morreu na UTI do Into na madrugada de sexta-feira (13). Mãe de três filhos, ela conseguiu se formar em assistência social aos 57 anos e falava com orgulho da graduação.
Aos 16 anos, Graça Rocha saiu de Sena Madureira, no interior do Acre, para estudar na capital. O objetivo era conseguir se formar no ensino superior – meta alcançada somente aos 57 anos e bastante comemorada por ela e pela família.
Aliás, o amor pela família é o que a movia. Dos seus 63 anos, 24 foram dedicados ao funcionalismo público do estado. Aos 49, aposentou e pôde se dedicar aos três filhos e aos dois netos, por quem era apaixonada.
Formada em assistência social, Graça é uma das 708 vítimas da Covid-19 no estado. Ela morreu na última sexta-feira (13), deixando saudade, mas também um legado de luta e realizações aos filhos, lembranças que se agarram para amenizar a falta da mãe.
A partida repentina pela doença e a despedida distante foi a parte mais difícil para a família, que relembra com carinho da mulher que sempre se dedicou à família. A mais velha de nove irmãos, sentia-se responsável por todos.
“Extremamente família. Pode-se dizer que essa era sua principal característica. Por ser a irmã mais velha, sempre cuidou de todos e tinha um zelo excessivo. Amava os filhos e tinha muito orgulho deles, celebrava as vitórias de cada um, tanto na vida pessoal como profissional. Sempre contava para as pessoas que os três filhos se formaram na Universidade Federal do Acre” e isso era motivo de grande orgulho para ela”, relembra o filho Bruno Rocha.
Se cuidado e amor eram características pontuais de Graça, a chegada dos dois netos fez esses sentimentos transbordarem até esparramar.
“Apaixonada pelos dois netos, era uma avó coruja que não media esforços para vê-los felizes e sempre fazia questão de estar com eles”.
Extremamente religiosa, se apegava à fé para superar os momentos difíceis e fazia questão de usar as redes sociais para propagar aquilo que acreditava.
“Era conhecida por todos os dias distribuir palavras de carinho e conforto, passagens bíblicas e se sentia feliz por estar de alguma forma fazendo o dia de alguém melhor. Ensinou os caminhos de Deus aos três filhos e o caminho do bem”, relembra o filho emocionado.
Cartas não lidas
No dia a dia, o passatempo da assistente social era fazer crochê. Recorria às redes sociais também para mostrar os amigos cada resultado do trabalho, mantendo assim sua habilidade de comemorar as pequenas vitórias, os detalhes do dia que por vezes passam despercebidos.
Guerreira, Graça foi fortaleza e criou os três filhos; Bruno, Ana Paula e Fernando, sozinha. Lutou pela vida até o último minuto. Segundo à família, no dia em que teve a parada cardiorrespiratória devido às complicações da Covid-19, ela foi reanimada por mais de 30 minutos, mas não resistiu.
No mesmo dia em que deu entrada na UTI, os filhos e netos haviam mandando cartas para serem lidas no leito do hospital. Emocionada e debilitada, ela não conseguiu ler as cartas e morreu antes que pudesse fazê-lo, mas os filhos acreditam que ela partiu sabendo o quanto amada foi por eles, pelos netos e pela família que ela tanto prezava.
O consolo, segundo eles, é saber que tudo que podia ser feito, foi feito. “A gente se agarra a tudo isso e a corrente de orações e ajuda que tivemos de amigos, conhecido e muita gente. Tudo isso faz amenizar um pouco a saudade”.
G1