A empresária Sudilene Daly Oliveira Vidal, de 51 anos, foi mais uma vítima da Covid-19 no Acre. O quadro evoluiu muito rápido, mas a filha dela, Júlia Lemos, acredita que a morte poderia ter sido evitada se a mãe tivesse recebido a assistência adequada.
Sudilene morreu no dia 28 de agosto após ter uma parada cardiorrespiratória. E já estava com 90% dos pulmões comprometidos. Ainda muito abalada, Júlia, única filha de Sudilene, diz que pretende denunciar o Hospital Santa Juliana e a Unimed, em Rio Branco, por negligência no atendimento.
Procurada pelo G1, a Unimed informou que “foi autorizado tudo que foi pedido. Todo tratamento da paciente” e que o prontuário é de responsabilidade do hospital Santa Juliana. A reportagem aguarda resposta do hospital.
Júlia conta que na primeira ida da mãe ao Pronto Atendimento da Unimed, já com diagnóstico de Covid-19, no dia 23, ela estava com febre alta. Foi medicada e mandada para casa após passar por exames.
“Fez tomografia, outro para ver como estava o grau de infecção, e esses exames deram muito alterados, mas o médico não deixou ela internada. É como se a Unimed não quisesse interná-la”, relembra.
Como a mãe não melhorava, Júlia disse que mandou os exames para um amigo que trabalha no Instituto de Traumatologia e Ortopedia do Acre (Into), no dia 24. O amigo de Júlia mostrou o exame para um médico do Into e o profissional falou que Sudilene estava com 70% dos pulmões comprometidos e deveria estar internada.
“O médico do Into falou que ela deveria estar internada, foi quando meu marido pegou minha mãe e levou para Unimed de carro”, explica.
Ela questiona a demora na internação da mãe e diz que vai registrar uma denúncia no Conselho Regional de Medicina (CRM). “Vou entrar no CRM para apurarem porque houve negligência. Vão puxar o prontuário e observar isso. A contestação é porque minha mãe, com o exame no domingo, a Unimed não providenciou a internação dela? Por que não houve a interferência e atitude logo de princípio?”, pergunta.
Quando foi finalmente internada e transferida para o Hospital Santa Juliana, Sudilene mandou mensagens para a filha denunciando que não tinha dipirona na unidade, o aparelho que mede a saturação tinha quebrado e que passou uma noite desassistida pelas enfermeiras.
“Quando entrou no Santa Juliana já estava ruim e por que não foi levada para a UTI? É o mais comum por aí, pessoas com menos de 50% ou 50% do pulmão comprometido já vai para UTI. É onde você vai ter mais cuidado e um respirador!”, questionou.
Sem medicamentos
Sudilene ficou internada no pronto atendimento da unidade até a terça (25). No final do dia, segundo Júlia, a paciente foi transferida para o Hospital Santa Juliana, mas lá foram enfrentadas mais dificuldades.
“Só foi para o Santa Juliana no final do dia, ficou no pronto atendimento. No Santa Juliana ela jantou, mas a última visita no quarto dela foi às 22h e ela me passou mensagem dizendo que não aguentava de dor e não tinham passado mais no quarto dela. Ela gritou de dor e a enfermeira falou que não tinha dipirona, não tinha omeprazol e nem a vitamina que ela estava tomando e o aparelho que media a saturação tinha quebrado”, lamentou.
Júlia foi até o hospital e fez uma série de reclamações para a equipe. Após isso, Sudilene relatou para a filha que o tratamento tinha mudado, que tinha começado a fazer fisioterapia e estava tomando a medicação.
“No final do dia, mandou mensagem que estava melhor, mas quando foi quinta [27] acordei pela manhã com ela falando que tinha piorado. Depois do almoço levaram ela para UTI, na hora do boletim médico, às quatro horas, o médico falou que ela estava estável, que estava no respirador e iria fazer mais exames. Falou que ela tinha ido para UTI para prevenir e ficar no respirador melhor, que teria mais assistência”, contou.
Porém, na sexta (28) Júlia recebeu a notícia que mais temia desde o início do tratamento da mãe. Sudilene teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.
“Me chamaram lá e recebi a notícia. Minha morreu com 90% dos pulmões comprometidos, entre domingo e o final da semana o pulmão piorou de 70% para 90% e eles não tiveram a iniciativa de entubar ela. Houve negligência desde o início”, afirmou.
Júlia contou também que a mãe não tinha comorbidades, trabalhava e era saudável. “Minha mãe tinha só sinusite, que é normal na nossa região por causa da poeira. Minha mãe era uma pessoa do bem, me ajudava na loja na parte administrativa e no financeiro. Era só eu e ela aqui, era extremamente inteligente”, concluiu.
G1