A Rússia afirma ter vencido a corrida pela vacina da Covid-19; você tomaria?

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Production of 'Medgamal' two components COVID-19 vaccine, developed by the Gamaleya National Research Centre for Epidemiology and Microbiology and the Russian Direct Investment Fund (RDIF) at the Gamaleya National Research Centre in Moscow, Russia, August 6, 2020.

Você confiaria em uma vacina se Vladimir Putin dissesse que ela é segura?

Próxima pergunta: Donald Trump confiaria em uma vacina se Putin dissesse que ela é segura?

Não se trata da corrida espacial; é uma pandemia mundial. Mesmo assim, Putin está tentando colher os louros da vitória aqui.

Enquanto a comunidade médica dos Estados Unidos despeja água fria nas sugestões de Trump de que uma vacina poderia estar pronta até dia da eleição à presidência dos EUA, em novembro, Putin apenas tirou um coelho da cartola e o chamou de Sputnik, em homenagem à missão do satélite soviético que assombrou o mundo em 1957.

Nunca subestime a disposição de pessoas poderosas de se envolver em alguma propaganda geopolítica. É por isso que Putin enviou EPIs (equipamentos de proteção individual) para Nova York há alguns meses, embora o vírus tivesse se espalhado em seu próprio país.

A Rússia relatou muito poucos casos de Covid-19 antes que se tornasse impossível negar o surto. É o país onde os médicos que criticam a resposta do governo à pandemia caem misteriosamente de janelas.

Questões de transparência

Você confiaria em uma vacina russa mais do que em um resultado das eleições russas? O tipo de fraude eleitoral que Trump frequentemente alega que acontece nos Estados Unidos (sem apresentar provas), de fato ocorre na Rússia, de acordo com organizações que vigiam a democracia.

Putin e seus interesses são rotineiramente apoiados por inacreditáveis três quartos dos eleitores. Três quartos dos norte-americanos não têm o mesmo ponto de vista sobre quase nada.

Nenhum presidente norte-americano obteve muito mais do que 60% do voto popular, nas eleições onde isso foi possível de ser rastreado. Caramba, em nosso sistema esquisito, é rotina dar a Casa Branca para a pessoa que obteve menos votos. E todo mundo concorda com isso.

Trump gosta de brincar sobre continuar servindo como presidente por muito tempo no futuro, mas para fazer isso ele teria que mudar a Constituição dos Estados Unidos, o que parece completamente impossível. Não para Putin. Os eleitores o ajudaram a mudar a constituição da Rússia no mês passado.

Durante seu mandato, Trump demonstrou grande respeito por Putin. Trump trata com desdém a avaliação da comunidade de inteligência dos EUA de que a Rússia tentou ajudar sua campanha em 2016 (e está fazendo o mesmo para sua vitória em 2020). A Casa Branca também gosta de dizer que ele tem sido duro com a Rússia, embora haja ampla evidência da disposição de Trump em deixar Putin bancar o macho alfa.

Um exemplo, entre muitos, é seu interesse contínuo em trazer Putin de volta ao grupo de liderança das democracias industriais. O G7 – que costumava ser o G8 – expulsou a Rússia depois que Putin invadiu a Crimeia, que fazia parte da Ucrânia, em 2014.

Sabe o que mais a comunidade de inteligência dos EUA diz que a Rússia está fazendo? No mês passado, a NSA (Agência Nacional de Segurança), junto com agências de inteligência de países europeus, afirmou que russos estavam tentando roubar a pesquisa da vacina contra o coronavírus invadindo sistemas de computador.

Na Bielorrússia, país ao lado da Rússia, Putin se estranhou com o presidente, Alexander Lukashenko, no poder há mais de 25 anos, que prendeu mercenários russos algumas semanas atrás. Segundo Lukashenko, eles estavam tentando desestabilizar o país na véspera de sua eleição. Lukashenko venceu, recebeu os parabéns de Putin e está em processo de esmagar os protestos dissidentes.

A disputada corrida à vacina

O anúncio de uma vacina na Rússia, acredite se quiser, deve irritar Donald Trump. Na semana passada, Trump disse, contrariando as evidências da medicina ocidental, que poderia haver uma vacina até o dia da eleição.

“Acredito que teremos a vacina antes do final do ano, com certeza, mas por volta dessa data, sim. Acho que sim”, afirmou Trump na quinta-feira passada (6).

A linha do tempo real (tomara). Mas especialistas médicos de verdade disseram que o cronograma alardeado por Trump é impossível.

“Não tem jeito. Simplesmente não tem como”, afirmou o doutor Peter Hotez, especialista em vacinas do Baylor College of Medicine e analista médico da CNN. Mesmo que tudo corra exatamente de acordo com o planejado, o desenvolvimento da vacina se daria perto do Dia da Posse. Ou seja, até o final de janeiro.

Como a Rússia fez isso tão rápido? Aqui está uma frase-chave da reportagem da CNN sobre o anúncio da vacina por Putin.

“Os críticos dizem que o esforço do país por uma vacina se deve em parte à pressão política do Kremlin, que deseja retratar a Rússia como uma força científica global”.

Tem mais: a Rússia não divulgou dados científicos sobre seus testes e a CNN não foi capaz de verificar a alegada segurança ou eficácia da vacina. O New York Times noticiou que a vacina russa não completou os testes.

Apesar disso, as autoridades russas disseram à CNN que pelo menos 20 países e algumas empresas dos EUA manifestaram interesse na vacina.

Não use atalhos. Se você está interessado em saber por que é tão importante fazer testes exaustivos para o desenvolvimento de vacinas, é porque, nesse caso, bilhões de pessoas precisarão tomar a vacina. E observe que a China também começou a testar uma vacina em membros de suas forças armadas. Leia no site do CDC sobre problemas históricos de vacinas (em inglês).

Em desenvolvimento. Atualmente, há 25 vacinas em testes clínicos e mais de 100 em desenvolvimento, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Espera-se que as mais seguras delas possam alcançar bilhões de pessoas em todo o mundo e nos trazer de volta ao normal.

As pessoas em sociedades abertas precisam confiar que a vacina não as prejudicará. Elas precisam confiar que suas eleições são válidas. Elas precisam confiar que o governo trabalha pelos melhores interesses dos cidadãos – se não, podem participar do processo e colocar outra pessoa no poder.

CNN

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp