Mulheres do AC criam petição pedindo anulação da contratação do goleiro Bruno

Um grupo de mulheres acreana criou uma petição online na segunda-feira (27) pedindo o cancelamento da contratação do goleiro Bruno Fernandes pelo time do Rio Branco Futebol Clube.

CONFIRA O LINK DA PETIÇÃO

A contratação do goleiro Bruno, ex-Flamengo e condenado pelo assassinado da modelo Elisa Samudio, causou uma polêmica no Acre. Diante da reprovação do caso, um grupo de mulheres resolveu uma petição com o tema: “Diga não à contratação do feminicida goleiro Bruno pelo Rio Branco Football Club”.

A petição já conta com quase 600 assinaturas até às 10h desta terça-feira.

Confira o texto da petição:

Nós, mulheres do Acre, estamos vindo a público para manifestar o nosso repúdio ao Rio Branco Futebol Clube que anunciou a contratação do feminicida goleiro Bruno.

Não podemos supor que se trate de algo diferente de uma afronta, de um escárnio para com a sociedade acreana e para com a luta das mulheres e um desrespeito para com as vítimas do machismo, da misoginia e do feminicídio. Um desrespeito, também, para com as suas famílias, para com a família de Eliza Samúdio que, até hoje, não sabe o paradeiro de seu corpo.

Para iniciar uma remissão de verdade, Bruno deveria, no mínimo, revelar onde está o corpo da mulher, dando, assim, uma oportunidade de seus parentes dar-lhe um enterro decente e prestar-lhes as homenagens que desejarem a uma mulher que foi morta porque reivindicava seus direitos e de seu filho com o seu algoz.

Todos os dias a cada instante temos mulheres sofrendo violências inimagináveis assim como Eliza que reivindicava o direito basilar de pensão alimentícia.

É uma afronta e um escárnio, sim, o Rio Branco tomar tal decisão em um Estado que tem um dos mais altos índices de crimes de violência contra a mulher, segundo os dados do Monitor da Violência.

Se torna afrontoso e vergonhoso que um time acreano se mostre distanciado das causas e das lutas das minorias e se submeta à execração pública, à repulsa de seus próprios torcedores e à condenação da sociedade em que está inserido. Isso nos faz retornar aos tempos no qual o Acre era o local para onde eram enviados sujeitos rejeitados no Sul-Sudeste, os desterrados de 1904 e 1910. O Acre, assim, continua sendo apresentado como um lugar para aqueles que não são bem vindos lá.

Sobre o futebol, lembramos que esse esporte forma ídolos de crianças, jovens e adultos, o que torna inconcebível que crianças admiradoras de seus atletas possam, em algum momento, ter como ídolo o Goleiro Bruno como pretende o histórico time que, com essa contratação, venha projetar esse homem como líder para sua torcida.

Não estamos aqui defendendo que Bruno não tenha direito à ressocialização, a um trabalho que garanta o sustento na sua retomada pelo caminho do bem, dentro dos preceitos legais que a sociedade exige. Não! Não é isso. Bruno pode e deve trabalhar, mas não em posição de destaque dentro do futebol. Não numa posição que possa destacá-lo como ídolo, como herói de uma torcida. Heróis se pautam pela justeza, pela ética, pelo respeito aos direitos humanos.

Neste momento de indignação, nós, mulheres dos movimentos sociais organizados, nos juntamos à demais instituições da sociedade civil, dirigidas e apoiadas por homens e mulheres, torcedores e instituições democráticas legalmente constituídas, para EXIGIR que a diretoria do Rio Branco Futebol Clube reveja, IMEDIATAMENTE, a decisão da contratação do Goleiro Bruno.

EXIGIMOS, ainda, que sua diretoria venha a público, diante da sociedade e de sua valorosa torcida, pedir desculpas pela afronta que fez. EXIGIMOS ainda uma manifestação dos patrocinadores, pois como consumidoras, não aceitaremos que empresas locais das quais somos clientes, patrocine esse tipo de iniciativa.

Finalizando, a título de pedido, queremos que o Rio Branco Futebol Clube dê o exemplo ao Acre, ao Brasil e ao Mundo, acrescentando em seu estatuto a decisão de não mais contratar homens condenados por crimes contra mulheres.

Rio Branco, 27 de julho de 2020