Coronavírus pode exterminar população de índios isolados no Acre, diz antropólogo

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Nesta semana o professor indígena Jocemir Saboia Kaxinawa, da aldeia São Vicente da Terra Indígena (TI) Kaxinawá do Rio Humaitá, entrou em contato com a Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre) para alertar sobre o risco de contágio do novo coronavírus entre povos isolados. “Estamos passando por um momento complicado, em tempo do verão, quando os parentes isolados estão andando nas aldeias e agora esse vírus chegou na nossa terra. Todas as aldeias estão sendo afetadas, em algumas pessoas deu positivo. Estamos com a equipe aqui na aldeia, monitorando as pessoas que estão com febre, sentindo sintomas. Acabamos de perder o Velho Batista da aldeia Vigilante. O Velho Batista fez a sua passagem às nove horas da noite, e o pessoal foi fazer o exame para confirmar se ele estava com o vírus”, disse Jocemir.  Uma equipe do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Rio Juruá está percorrendo as seis aldeias da TI, fazendo o monitoramento e o diagnóstico de casos de COVID-19 (coronavírus).

No Acre, das 36 Terras Indígenas, 15 já foram afetadas pelo coronavírus. Cerca de 350 indígenas que vivem nas aldeias foram testados positivo para COVID-19, conforme monitoramento realizado pela CPI-Acre, com a Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC) e a Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC). A confirmação dos primeiros casos na TI Kaxinawá do Rio Humaitá é ainda mais preocupante, pois segundo informações do professor Jocemir Saboia, há pessoas com sintomas de COVID-19 em cinco, das seis aldeias da TI, um território com presença de povos indígenas isolados, que são bem mais suscetíveis a doenças epidemiológicas.

“Não só os Huni Kuĩ estão vulneráveis, mas também a população de um povo ainda desconhecido que vive em isolamento voluntário nas cabeceiras daquele rio [Humaitá]. O contágio dessa misteriosa doença, que nos parece um grande feitiço da natureza, poderá ser transmitida por ocasião dos saques que promovem, quase todos os anos, sobretudo nos meses de verão amazônico, nas casas de seus vizinhos Huni Kuĩ e de moradores indígenas e não-indígenas dos altos rios Muru e Iboiaçu. Se essas populações do entorno forem contaminadas pelo novo coronavírus, os “isolados do Humaitá” também correm o sério risco de serem contagiados por essa doença respiratório aguda grave, contagiosa, que poderá levar ao seu extermínio, como aconteceu com muitos grupos indígenas durante as epidemias do século passado”, esclarece o antropólogo Txai Terri Aquino.

Em abril, quando a COVID-19 ainda não tinha se espalhado pelo interior do Acre, o Agente Agroflorestal Indígena (AAFI) Nilson Tuwe demonstrou preocupação com a regularidade da presença dos isolados próximo as aldeias na TI Kaxinawá do Rio Humaitá. Nilson disse à CPI-Acre que eles estavam aparecendo com mais frequência,  que uma flecha havia sido lançada recentemente e quase atingiu um morador que  estava pescando. “Os isolados estão aqui perto, agora estão [aparecendo] de inverno a verão próximo das aldeias. Temos essa preocupação porque não queremos ser atingidos. Não queremos mexer com eles, nem que eles mexam com a gente. Por isso precisamos articular uma vinda do pessoal da Frente de Proteção Etnoambiental aqui.”

Assessoria CPI

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp