Acre ‘perde’ 624 mil cabeças de gado, setor teme falência de frigoríficos e salto no preço da carne

Pecuarista denuncia esquema fraudulento com estado do Amazonas para levar gado gordo do Acre. Estado perde recursos com crime de evasão de divisas

Um pecuarista do Acre, que prefere não ter o nome revelado, procurou a reportagem da Folha do Acre nesta quinta-feira (30) para denunciar o que ele classifica como uma ‘bomba relógio’ no setor frigorífico em todo o estado. Segundo o denunciante, o Acre teve um déficit de 624 mil cabeças de gado somente de novembro de 2019 a junho de 2020 por causa da venda ilegal (evasão de divisas) e baixa valorização dos animais acreanos.

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Segundo informações do pecuarista, essa saída desenfreada de gado do estado para Rondônia, Amazonas, Mato Grosso, Minas Gerais e até São Paulo poderá fazer com que o preço da carne tenha um aumento jamais visto no Acre. Ele conta que hoje está faltando boi gordo para abate nos frigoríficos do estado.

“Essa queda no rebanho de 624 mil cabeças de gado que foi feito recadastramento do rebanho é muito grave, estão levando nossa maior fonte de renda do Estado. E o que é pior na grande maioria sem pagar imposto, usando de um comércio de liminares fraudulentas. Hoje a carne bovina saltou de R$ 10,50 para R$ 12,80 o preço do quilo que chega às casas de carnes, mercados e açougues. O acreano já começou a sentir no bolso o aumento da carne”, conta o pecuarista.

O denunciante alerta para um cenário de caos no setor frigorífico e matadouros do estado caso nada seja feito para resolver a situação.

“O governo não tem dado a atenção merecida ao assunto. Está colocando em jogo toda pecuária acreana. O setor de indústrias de frigoríficos e matadouros podem fechar as portas por falta de matéria prima, que é o boi. Até agora nada foi feito para conter essa saída de gado que vem lesando o Estado, produtores, indústrias e principalmente a população que tem pago um preço alto pela carne”, disse.

Como funciona o esquema de venda ilegal do gado

O fazendeiro conta que o assunto já foi levado até o conhecimento do governo do Acre, Ministério Público e até mesmo denunciado à Polícia Civil. O denunciante explica como funciona o esquema de venda ilegal de gados no Acre.

“Cerca de 90% gado que tem saído do Acre é gado magro que está sendo vendido para Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo. Eles vêm buscar por que o gado do Acre é bom, barato e levam sem pagar impostos. Levam no rolo, levam usando artificios para poder burlar o fisco”, conta.

Outro esquema denunciado pelo pecuarista é o que envolve o estado vizinho do Amazonas: “O gado gordo que tem saído em vista ao gado magro é muito pouco, mas tem saído para ser abatido em frigoríficos do Amazonas sem pagar imposto para o Acre. Por isso que é vantajoso. O frigorífico vai pagar mais para o fazendeiro, o Amazonas já oferece isenção de 5% na carne e então eles conseguem tirar o gado do estado oferecendo um preço melhor aos vendedores, mas acabam prejudicando o setor no Acre, e elevando o preço da carne aqui”, explica.

Caso é denunciado ao deputado Luiz Gonzaga

A denúncia da venda ilegal, crime de evasão de divisas, já foi denunciado pelo deputado Luiz Gonzaga (PSDB), na Assembleia Legislativa do Acre. Por diversas vezes o parlamentar alertou os órgãos competentes sobre o problema. Nesta quinta-feira, Gonzaga foi procurado mais uma vez por empreários ligados ao setor frigorífico para tratar sobre o assunto.

“Já há bastante tempo que o nosso gado tem saído em sua grande parte de forma irregular. Tributos não estão sendo pagos ao Estado. Além disso, dificulta a reposição do rebanho, porque hoje não se encontra bezerro para comprar como antigamente, se ligar para Feijó, Tarauacá e Cruzeiro do Sul não se encontra. Estou pensando em organizar uma audiência pública para discutir o problema”, disse Gonzaga.