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Ulysses se exime após ação da PM contra manifestantes e usa 350 mortos da Covid para politicagem

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A hipocrisia do Coronel Ulysses e o caráter politiqueiro de quem usa a pandemia para curral eleitoral

Foi uma manhã atípica no Acre. Camelôs lutando contra o decreto de isolamento que tenta poupar vidas de uma pandemia sem controle e artimanhas políticas nos bastidores de pessoas que querem colher frutos políticos de um assunto complexo. De tudo que vi o mais absurdo foi a nota assinada pelo coronel da Polícia Militar (PM), Ulysses Araújo, ex-candidato a governador, que mantém um canal no YouTube de autopromoção usando a PM como pano de fundo e que entre um sonho e outro de crescer politicamente desenvolve o papel de comandante geral da PM.

Esquecendo-se do cargo que assume, da responsabilidade que ele implica e da segurança jurídica que o Estado tem para manter o decreto de isolamento, Ulysses assinou uma nota demagoga, oportunista, afirmando que não autoriza a PM usar a força contra cidadãos de bem. Como se fora isso, usar a força contra cidadãos de bem, que o governador Gladson Cameli quisesse.

Indiretamente, Ulysses jogou a culpa da PM ter agido na manifestação no colo do governador e fez entender que ele é um Robin Hood militar que mesmo sendo branco, poderoso, defende os pobres, sem pão e sem teto porque ele é bonzinho, puro e simples. Claro que ele deu a entender isso como se não fosse um ser político, oportunista, dentro desse viés e que ocupa um cargo importante dentro de um grupo político.

Ao dizer que a Polícia Militar não compactua com o suposto ato praticado contra os manifestantes, o coronel Ulysses se exime, terceiriza a culpa, faz-se de desentendido da necessidade de fazer cumprir o decreto de isolamento social e tenta fazer um trampolim no meio de um caos que já vitimou mais de 350 pessoas no Acre. Ulysses, com suas atitudes, caminha a passos largos dos mortos, como se nada tivesse haver com a dor alheia, de famílias enlutadas, de um Acre em pânico e tenta um posicionamento político de destaque. Quer aparecer a qualquer custo, não apenas no canal de alto promoção pessoal, mas em um assunto delicado, complexo e que envolve vidas.

Ulysses, com largo conhecimento em direito, merece não apenas ser exonerado do cargo, como responsabilizado por, mesmo que discretamente, tentar insulflar a população contra o decreto ao dizer que não autoriza o uso dos mecanismos da PM para combater a desordem dos que tentam quebrar o isolamento.

Merece voltar para o banco da escola ao desrespeitar a hierarquia de uma democracia ao dizer que a PM pertence ao povo do Acre. A frase demagoga tenta dizer que a PM não está submetida a poder algum quando na verdade ela está submetida ao governador no uso de suas funções legais que o povo lhe conferiu. Portanto, Gladson representa o povo, eleito legitimamente, inclusive, em uma eleição em que Ulysses foi derrotado.

No final das contas Ulysses é somente mais um personagem patético tentando se dar bem politicamente em épocas sombrias de mortes e desalento.

Que Deus ajude o Acre, no meio de tanta gente oportunista e sem noção do que é democracia, direito legítimo e legalidade.

*Gina Menezes é jornalista, colunista política e sócia-fundadora do Jornal Folha do Acre

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