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‘Gostava da casa cheia’, diz filho de mais uma vítima que morreu por Covid-19 no Acre

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Maria das Graças Gomes, de 70 anos, morreu nesta segunda-feira (18). Filho diz que aposentada chegou a subestimar o vírus.

Cuidar das plantas e das cachorras, que são o xodó da casa, eram os passatempos preferidos da aposentada Maria das Graças Faria Gomes, de 70 anos. A casa cheia aos fins de semana com toda a família era o som preferido para ela.

Mãe de três filhos, fez questão de adotar uma neta como filha. Mas, a família teve que se despedir dela segunda-feira (18) quando ela morreu vítima de Covid-19 na UTI do PS, em Rio Branco. A morte da idosa foi registrada pelo boletim da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) nesta terça-feira (19).

Vazio na casa e também na rotina dos filhos e netos. Difícil mais ainda para o servidor público Antônio Gomes, de 71 anos, que passou meio século ao lado da fiel companheira com quem montou uma grande família que gosta de reunir todo mundo.

Desde que soube da morte da mulher, ele está à base de medicamentos. O cuidado dos filhos com ele agora é redobrado, porque têm medo de perder o pai também. Até bloquear o carro dele com outro veículo, os filhos fizeram. Tudo para proteger o pai e evitar que ele saia de casa.

Maria das Graças sentiu os primeiros sintomas no dia 22 de abril. Entre indas e vindas a hospitais, foi encaminhada à UTI do Pronto-Socorro no dia 7 de maio, quando o pulmão ficou quase todo comprometido devido à doença.

No PS, ela ficou até segunda, quando morreu. No sábado (16), o filho dela, Jean Faria, chegou a fazer uma movimentação para que ela não fosse transferida de hospital. Isso porque temia pela vida da mãe.

“A transferência da minha, na verdade, foi para o necrotério. Não tem como não ficar abalado, A gente fica sem saber nem como agir”, lamenta o filho.

A aposentada morava com o marido e uma neta de 22 anos, que é filha de Jean. Ele conta que teve a menina ainda com 17 anos e, por ser muito novo e pela mãe sempre querer uma menina, ela decidiu criar a neta como filha.

“Era uma criança tendo outra criança na época. Então, quando ela soube, disse que ia criar todo mundo junto e assim fez”, relembra.

Subestimou a doença

Muitas pessoas de idade avançada acabam esbarrando na teimosia e desacreditam muito o vírus. Com Maria das Graças não foi diferente. O filho conta que ela subestimou o vírus e achava que a doença não era muito grave.

“Eu sempre estava cuidando para que ela não saísse de casa com meu pai, mas eles foram resistentes. Tudo que precisava, os filhos levavam até o portão, higienizavam, justamente para que eles não tivessem contato com ninguém, mas dias antes dela apresentar os primeiros sintomas, teimou dizendo que precisava ir ao banco e não teve quem tirasse da cabeça dela. Foi no banco e depois no mercado”, conta.

Depois disso, ela começou a apresentar os sintomas da doença. “Do dia 5 ao 6, o vírus já tinha tomado conta de quase todo o pulmão da minha mãe”, conta.

G1

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