Após vencer a Covid, casal de idosos é recepcionado por vizinhos com faixa no AC: ‘Bem-vindos ao lar’

Casal de idosos Fátima Amaral, de 64 anos, e João Tavares, de 72, foi recebido pelos vizinhos com homenagens, após receber alta do hospital, na segunda (18).

O casal Fátima Amaral, de 64 anos, e João Tavares, de 72, pode dizer, literalmente, que nasceu de novo. Os dois, que moram Rio Branco, passaram por 11 longos dias de angústia e sofrimento após terem contraído a Covid-19. Mas, nessa segunda-feira (18), eles tiveram duas surpresas, receberam a tão sonhada notícia de que teriam alta e uma homenagem amorosa dos vizinhos do Conjunto Manoel Julião.

Muito amados pelos vizinhos, pois estão sempre presentes na vida dos amigos, eles foram recepcionados quando chegaram em casa com três faixas.

“Sejam bem-vindos ao lar”, uma faixa com essa frase foi afixada na entrada da casa deles. Uma outra foi colocada do outro lado da rua e dizia: “Nós te amamos, baby: assina as Donas do Pedaço” e outra com os dizeres: “A Ele toda honra e toda glória”. E foi assim que dona Fátima, como é conhecida, chegou em casa após ficar internada no Hospital Santa Juliana, na capital acreana.

Fátima disse que se emocionou muito quando chegou em casa e viu a homenagem.

“Quando cheguei em casa e vi minha amigas em frente da minha casa me esperando, mesmo nesse momento tão delicado em que todos nós vivemos de distanciamento social, me senti muito feliz, foi muita emoção, tive muita alegria em saber que elas se preocuparam comigo, são mulheres amadas do Senhor e do meu coração”, agradeceu.

A professora Maria do Socorro Gomes Magalhães foi a idealizadora da surpresa. Ela, que é amiga da dona Fátima há mais de 20 anos, conta que ficou muito preocupada quando soube que sua parceira estava doente.

“Não gosto nem de pensar, fiquei sem dormir, a gente ama muito ela, é e uma pessoa maravilhosa, muito amada por todos. Minha baby, como eu a chamo, sempre me deu apoio nos momentos bons e ruins da minha vida, temos uma amizade linda”.

Essa não foi a única surpresa do dia, Fátima, João e outros cinco pacientes que receberam alta no mesmo dia foram homenageados ao saírem do Hospital Santa Juliana.

“A primeira surpresa eu tive foi quando saí do hospital. Os profissionais fizeram uma homenagem, foi muito lindo, você não sabe o medo que a gente tem e a felicidade que é sair com homenagem porque sobreviveu, foi o corredor da felicidade, então, eu já comecei a me emocionar no corredor do hospital”, lembra.

Sobre a saudade do marido e do confinamento, Fátima diz que falava com amigos, parentes e com o marido por mensagem de celular.

“Ficamos em apartamentos separados, mas era um na frente do outro. Agente não podia se ver e os enfermeiros falavam dele para mim, e de mim para ele”.

Seu João, que é mais tímido, contou que sempre esteve confiante e otimista em relação à sua recuperação, da esposa e da cunhada. “Ela ficou mais preocupada por causa da nossa idade, mas eu sabia que a gente ia conseguir”, falou.

Amiga do peito

Sobre a surpresa, Socorro disse que as vizinhas criaram um grupo no whatshapp com o nome “As Donas do Pedaço” onde dona Fátima também faz parte, ela, então, fez outro grupo, explicou a ideia da homenagem e chamou as demais vizinhas para participar.

“Combinamos de fazer as faixas, queríamos algo mais, mas como não pode por causa do distanciamento, fizemos a surpresa dentro das normas. Mas, foi lindo, ela adorou. Algumas amigas não puderam participar por serem do grupo de risco, mas ficaram vendo de dentro de casa. Usamos máscaras de proteção e ficamos do outro lado da rua”, falou.

A amiga diz que ficou dando apoio através de ligações e mensagens e quando soube da alta e Fátima ficou muito feliz.

“Ela mandava uns áudios e eu via que ela estava com a voz muito lenta, muito sofrida, me preocupava muito, ela tossia, deixei de ligar para não forçar muito e também porque ele foi para o oxigênio, mas minhas orações estavam sempre com ela. O que a gente queria era demonstrar todo o nosso apoio, carinho e amor por ela”.

Descoberta da doença

Dona Fátima tem três filhas mas, a do meio, Elicintia do Amaral Gomes de Araújo, foi a que tomou a frente e foi para a casa da mãe quando descobriu que ela, o padrasto e a tia, que tem 79 anos e também é idosa, estavam com a Covid-19.

“Suspeitei no dia 28 de abril que eles estavam doentes. Minha tia é de Manaus e veio visitar a gente em março. Quando eu fui na casa da mãe no dia 27 eu cheguei e ela falou que seu João estava gripado, fiquei preocupada e comecei a manter uma certa distância. Com isso, já conversei com ela e perguntei se estava bem. No dia seguinte, liguei e ela disse que a tia estava com febre alta e a mãe com dor no corpo, mas elas achavam que era só gripe”.

Depois, Cintia, como é chamada, conta que os sintomas foram só piorando. “Comecei com a medicação que uma amiga médica receitou. No início, eu comprei só medicação para gripe”.

A filha diz que a tia foi melhorando, mas a mãe e o padrasto estavam ficando piores e foi então que no dai 7 de abril eles foram internados. “Fui na consulta sozinha e a médica viu o resultado da tomografia e a doutra detectou que estava tudo alterado. Eles foram internados e eu fiquei na casa cuidando da minha tia”.

Cintia fala que sabia do risco quando foi para a casa da mãe cuidar da tia, mas que não não pesou duas vezes e foi. “Fiquei em casa, fiz a desinfecção e fiquei cuidando da tia. Não peguei a Covid-19. Lembro que quando a doutora disse que eles precisavam internar me deu medo, ainda bem que eles três ficaram bem, agora é seguir”.

Fátima lembra que desconfiou que poderia estar doente quando começou a sentir falta de ar e se preocupou por ter problemas respiratórios.

“Comecei a sentir falta de ar forte, aí milha ligou para a médica e ela pediu exames e, graças a Deus, a médica já me levou para o hospital.Senti medo, chorei, achava que não ia mais voltar, porque essa é a notícia que a gente ouve por aí, mas eu venci”.

Mas, Fátima deixa um recado e pede que todos tenham cuidado, mantenham o isolamento e que aos sentir os mínimos sintomas da doença já procurem um médico. Se não tivesse agido rápido acho que eu não estava mais aqui. É difícil quando a gente se sente sozinho em um apartamento. Minhas filhas e minhas amigas me ajudaram muito e oravam por mim. As orações delas me ajudaram”, finaliza.

G1