Foi realizada na tarde desta segunda-feira (25), uma audiência pública remota para discutir opções de aperfeiçoamento no combate ao coronavírus no Vale do Juruá. O encontro virtual foi promovido pela Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), por meio do seu presidente, deputado Nicolau Júnior, e contou com a participação do governador, em exercício, Major Rocha, da procuradora-geral do Ministério Público, Dr.ª Kátia Rejane, secretário Alysson Bestene, senadores, deputados federais e estaduais e prefeitos da região.
O presidente da Aleac, deputado Nicolau Júnior (PP), agradeceu a presença das autoridades e explicou que esse é um momento delicado que exige união e total comprometimento de todos os poderes. O parlamentar afirmou ainda que a única bandeira a ser levantada é em Defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e, consequentemente, em defesa pela vida. Acrescentou ainda que vai propor outra reunião semelhante para ouvir prefeitos de outras regiões do Estado.
“Todos que estão aqui contribuem de forma significativa para o nosso Estado. Reconheço todo o esforço da nossa bancada federal, que se prontifica a ouvir atentamente as reivindicações e buscar recursos em Brasília. Também o dos deputados estaduais, que não têm medido esforços para ajudar nesse momento de crise. Os prefeitos, que estão na ponta e acompanham ainda mais de perto o povo de suas respectivas cidades. Esse é um momento difícil que exige a união de todos. Nosso principal objetivo aqui é salvar vidas, é poder voltar a reunir famílias, e para isso, hoje precisamos agir com precisão, disciplina e foco”, pontuou.
O governador em exercício, Major Rocha (PSDB), falou sobre a reunião da qual participou, que contou com a presença de prefeitos do interior do Estado. Ele pontuou que é importante a união de todos nesse momento de crise. “Quem mais sabe dos problemas ocasionados por essa pandemia são os prefeitos. Há municípios que vivem situações ainda mais difíceis, uma vez que até mesmo para chegar lá é mais complicado. Precisamos ver esse ponto. Vejo um esforço grande das bancadas estadual e federal para ajudar nesse momento. É difícil morar em um Estado distante como o nosso, onde ainda enfrentamos os mais diversos problemas.”
O senador Márcio Bittar (MDB) destacou que o Congresso Nacional tem atuado independente de siglas, para que todos os estados sejam atendidos durante o período de pandemia. Destacou ainda que, após um período de pouco diálogo entre Legislativo, Executivo e Judiciário, em Brasília, as pontes de conversas foram reconstruídas.
“Temos trabalhado juntos nessa questão que interessa tanto ao Acre. O Congresso tem ajudado independente de qualquer coisa, não criou nenhuma dificuldade para o executivo. O momento em que me preocupei, umas quatro semanas atrás, quando houve uma interrupção do diálogo entre Legislativo, Executivo e Judiciário, foi quando procurei o senador Davi Alcolumbre e me coloquei como alguém que o apoiava a reconstruir as pontes de diálogo. Nós estamos colhendo frutos disso, o Estado receberá parcelas de R$ 200 milhões para serem aplicados conforme as necessidades na Saúde”, destacou.
O senador Sérgio Petecão (PSD), falou sobre a inconstância nos tratamentos da Covid-19 e como isso afeta as pessoas. Disse ainda que tem conversado com médicos acerca dessa enfermidade e das dificuldades enfrentadas nos locais mais distantes. “Esse é um momento delicado que não permite críticas, mas sim apoio. Eu tinha apresentado um projeto em que a família do paciente se responsabilizaria para que ele recebesse a hidroxicloroquina, mas ontem vi uma reportagem que já modificou muito minha visão sobre a medicação. Tenho conversado com médicos e o cenário ainda é muito duvidoso, um medicamento que serve hoje, amanhã já é condenado porque descobriram que os efeitos colaterais trazem muito mais riscos.”
A procuradora-geral do Ministério Público do Acre, Drª. Kátia Rejane, destacou as ações que a Instituição tem promovido durante o período de pandemia. Ela também enalteceu a iniciativa do Poder Legislativo Acreano. “Tão logo começou esse período, o MP tomou todas as medidas possíveis, respeitando todos os decretos. Temos grupos de trabalho com os colegas do interior com uma atuação muito efetiva dos membros. Fazemos videoconferência com as prefeituras para ouvir dos gestores também, pois assim participamos mais ativamente. É louvável essa iniciativa da Aleac em promover esse debate. Meus parabéns!”
A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB), disse estar preocupada com a crescente no número de infectados pelo coronavírus. Ela pontuou que é necessário que o governo ajude as prefeituras. “Reconheço o esforço do governador durante essa pandemia, que tem tido uma postura muito correta sobre o isolamento, mas é preciso com isso vir soluções também. O que está sendo feito de concreto? Peguei parte das minhas emendas que seriam para outros fins, e as transformei em recursos para combate ao coronavírus. Todas as nossas ações agora têm que ser voltadas somente para combater essa pandemia e proteger as vidas.”
A deputada federal Jéssica Sales (MDB) disse entender que o momento é de dificuldade e, portanto, exige o esforço de todos. Mas questionou a contrapartida do Estado em relação às emendas que vêm sendo destinadas pela bancada federal. “Nós, da bancada federal, temos feito um esforço muito grande para conseguir destinar o máximo de emendas possível para o Estado, mas ainda vejo deficiências no plano do governo no combate à pandemia, e eu espero que sejam apontadas as ações, pois ele é o responsável pela execução. Como ficarão os municípios isolados em relação aos casos mais graves da doença? Até hoje não sabemos quantos leitos tem e ainda faltam, nem a quantidade de aparelhos respiradores suficientes.”
O secretário estadual de Saúde, Alysson Bestene, que participou da reunião para responder questionamentos e pontuar as ações do governo durante a pandemia, fez uma explicação sobre os trabalhos desenvolvidos nos municípios do Juruá. O gestor pontuou também que a pasta atua com base em um plano de contingência que se encontra em sua quinta versão, e que a mesma é atualizada e modificada de acordo com os avanços, necessidades e orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Sobre os municípios, nós trabalhamos três regionais de Saúde no Acre, que são: Juruá, Alto Acre e Baixo Acre. Adquirimos duas cápsulas de transporte específicas para pacientes do Juruá, que fica mais distante. O Hospital referência de lá, para atendimento de pacientes com coronavírus, é gerido por uma Oscip, que é responsável pela aquisição de medicamentos, equipamentos de proteção individual, dentre outros. Ainda assim, temos aumentado a demanda para que haja suporte para os pacientes que buscam atendimento”, explicou.
Ao ser questionado sobre a defasagem de médicos em determinadas cidades do Juruá, assim como também o número de leitos no Hospital do Juruá, Alysson Bestene pontuou que a Sesacre tem trabalhado com o aumento das demandas no suporte de leitos de enfermaria e de UTI’s. Também esclareceu que foram abertas vagas para a contratação de médicos que seriam enviados para locais mais distantes, no entanto, muitas vagas ainda não foram preenchidas.
“Nós temos aumentado gradualmente o suporte de enfermarias, UTI’S e todo o restante conforme vamos conseguindo. Semanalmente temos enviado medicamentos para as unidades hospitalares da região. As dificuldades maiores para os municípios mais distantes são os profissionais, abrimos vagas para um quantitativo de médicos para esses locais, mas não foram preenchidas por aqueles que possuem CRM. Então nós estamos prorrogando as inscrições para tentarmos preencher essas vagas”, esclareceu.
Alysson disse ainda que foram enviados profissionais para treinar os funcionários do Hospital do Juruá na condução da Cápsula Vanessa, utilizada como ventilação não invasiva em pacientes de Covid-19, também para capacitar em outros procedimentos específicos da doença. Ele pontuou que em casos mais graves há a possibilidade do transporte aeromédico, que pode trazer o paciente para a capital.
“O hospital do Juruá terá mais 60 leitos para atender pacientes de Covid-19, outro número de leitos somente de UTI’s. São ações que o governo vem realizando. Temos aditivado o contrato com a Oscip responsável pela administração da Unidade. Contratamos em média 38 profissionais para atender nessa região desde o início da pandemia, e continuamos contratando. Hoje recebemos 50 aparelhos respiradores e, inclusive, já estamos distribuindo esses equipamentos. A modalidade de telemedicina também é uma solução que encontramos para casos mais leves, desafogando o atendimento nos hospitais”, elucidou.
O que disseram os prefeitos:
Issac da Silva Piyãko (Marechal Thaumaturgo)
“Nosso município está localizado no meio da Amazônia, no meio da floresta, com uma logística bem mais complicada e de difícil acesso. Temos uma população mais vulnerável que precisa receber apoio especial. Hoje alcançamos a marca de 50 infectados pelo coronavírus, amanhã esse número pode ultrapassar 60, pois há uma lista aguardando resultado. Possuímos uma médica apenas, se ela for contaminada, ficaremos sem profissional. Precisamos de uma estrutura mínima aqui no município, assim como também reforço na segurança para ajudar no cumprimento de normas.”
Élson de Lima Farias (Jordão)
“O Jordão tem apenas uma unidade básica de Saúde que não possui condições de atender um caso grave dessa doença, pois o único equipamento que tem lá é uma bomba de oxigênio, nem aparelho de raios-X tem. Como gestor, a saída que tenho tomado até então é quanto à prevenção, com medidas duras de isolamento social. Ainda não temos casos, mas sabemos que infelizmente uma hora teremos e por isso precisamos da ajuda do governo. O que peço hoje é que retirem as mulheres grávidas que estão perto de ter bebês, pois caso uma delas tenha problema no parto, não temos vôo para transferi-la para um hospital com urgência.”
Francisco de Assis (Santa Rosa do Purus)
“Nosso município tem três infectados atualmente, o que queremos é o apoio dos parlamentares com testes rápidos. Também precisamos de respiradores para possíveis casos graves. Agradecemos o apoio das Instituições, do exército e polícia por estarem nos ajudando a manter a ordem durante o decreto.”
Cesar Andrade, secretário municipal de Saúde (Porto Walter)
“Primeiramente agradecemos as emendas destinadas para a Saúde em nosso município, isso tem nos ajudado até aqui. Hoje, infelizmente, foi diagnosticado o primeiro caso na cidade. Sei do empenho de todos, inclusive, do secretário de Saúde e do governador, também dos parlamentares. Nossa maior dificuldade é a falta de médicos. Também precisamos de materiais de equipamentos de proteção individual para os profissionais que atuam na unidade de atenção básica de Saúde do município.”
Ilderlei Cordeiro (Cruzeiro do Sul)
“Reconheço o empenho da equipe do Estado, mas não tem sido fácil. Já tivemos um momento em que todos os leitos de UTI estavam lotados. Hoje temos um número menor, mas ainda exige atenção. Os casos têm aumentado e isso é preocupante, pois pessoas em situação mais grave, consequentemente, virão pra cá. Minha sugestão é que precisamos usar o Hospital Dermatológico, que hoje está parado, tornando-o o hospital referência para atendimento de pacientes com Covid-19. A procura por atendimento é grande e essa é uma opção para desafogar o Hospital do Juruá. Outra sugestão é em relação aos testes, aqui nós passamos até 14 dias esperando o resultado chegar, é uma demora muito grande. O Samu também tem se negado a transportar pacientes com sintomas gripais e isso tem sobrecarregado as ambulâncias do município.”
O que disseram os deputados estaduais:
Edvaldo Magalhães (PCdoB)
“Há quatro municípios isolados: Porto Walter, Thaumaturgo, Jordão e Santa Rosa. As medidas que essas prefeituras tomaram no início da pandemia foram duras e eu quero parabenizá-las. Mas é preciso um suporte aéreo pronto para atender possíveis casos mais graves desses locais.”
Jenilson Leite (PSB)
“É necessário atender melhor os pacientes para que eles não precisem vir para Rio Branco. É preciso fazer parcerias com os municípios para que de fato eles tenham suporte para atender as pessoas. Os sintomas devem ser combatidos cedo, antes do agravamento, e muitas unidades hospitalares ainda não possuem condições de trabalhar esse diagnóstico precoce. Se corrigirmos isso, teremos menos gente precisando de UTI e de respiradores.”
Jonas Lima (PT)
“Quero parabenizar o secretário de saúde Alysson Bestene, assim como o governador, pelas medidas tomadas no início da pandemia, mas nós precisamos ficar 24h ligados para enfrentá-la. Em Mâncio Lima, há três semanas tínhamos apenas dois casos, ontem eram 10 casos confirmados, e acredito que hoje esse número já aumentou. O prefeito Isaac Lima tem se desdobrado para tomar medidas que brequem o avanço dessa doença aqui, mas é necessário que o governo dê uma contrapartida para as prefeituras.”
Antônia Sales (MDB)
“Nossa preocupação é na verdade saber do secretário de Saúde quais ações o governo tem tomado para ajudar todos os municípios, em especial os do Juruá, por possuírmos cidades de difícil acesso. O Hospital do Juruá, em Cruzeiro do Sul, é o que recebe casos graves de pessoas que vivem próximas daqui. O que ouvimos da população é só reclamação. O Hospital já está funcionando no limite de atendimento, até a clínica médica foi voltada para infectados pela Covid-19. Foram enviados recursos para cá, mas ainda não vimos a aplicação total dos mesmos.”
Chico Viga (PHS)
“O momento que vivemos é muito grave e reconheço o esforço dos parlamentares, mas temos que nos unir ainda mais para salvar vidas. O prefeito Ilderlei disse que quando o teste chega em Cruzeiro do Sul a pessoa já está até curada, mas, às vezes, morre também, sabiam?! Minha sogra morreu no último dia 9, foi velada normalmente, meus filhos participaram do velório porque não constava no atestado de óbito dela o resultado de coronavírus. Mas ontem o resultado chegou, inclusive, para a moça que trabalhava com ela, que atestou positivo. Peço que criemos uma frente parlamentar de acompanhamento e combate ao coronavírus.”
Cadmiel Bomfim (PSDB)
“Venho fazer um pedido pelo povo de Feijó. Graças a Deus, essa doença ainda está sob controle no município, mas mesmo assim enfrentamos estado de calamidade. A cidade tem apenas dois operadores de raio-X e ambos já possuem idade avançada, então é importante a contratação de profissionais da área, principalmente, para o diagnóstico dessa enfermidade. Também tem um respirador lá, mas ainda falta a bomba de fusão e o monitor. Se for possível, que enviem, inclusive, mais dois aparelhos respiradores também e testes rápidos.”
Agência Aleac