Denis Lopes morreu na madrugada de terça-feira (28). Ana Maria Paula recebeu resultado positivo no mesmo dia que enterrou o marido.
No mesmo dia que precisou enterrar o marido vítima da Covid-19, Ana Maria de Paula teve que encarar também o resultado positivo do exame que atestou que ela também estava com a doença. O mecânico Denis Lopes, de 45 anos, morreu na madrugada de terça-feira (28). Ele foi a primeira pessoa a morrer pela doença no Acre sem que tivesse qualquer outra comorbidade.
Em todo o estado, já são contabilizados 317 casos da doença e 16 mortes, de acordo com o último boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre).
No mesmo dia da morte, a mulher dele foi submetida ao exame, que saiu ainda na noite de terça. Pela tarde, Ana Maria teve que encarar o enterro solitário do marido com quem viveu por 21 anos e à noite, precisou se isolar e ficar longe dos dois filhos, de 14 e 10 anos, que também sofrem com a perda do pai.
Em casa, ela conta que apenas cinco pessoas participaram do enterro do mecânico no Cemitério São João Batista, em Rio Branco. Todos de longe por conta das recomendações para funerais das vítimas da doença. Agora ela está de quarentena e faz o tratamento em casa.
“O médico passou os remédios para tomar em casa e depois devo refazer os exames. Como está no início, não tem tanto perigo. Começou quando eu fiquei sem sentir o cheiro e gosto das coisas ainda na semana passada. Depois, comecei também a sentir dor nas costas”, conta.
Ela conta que os sintomas começaram na semana passada. Como não teve febre e o marido ainda não tinha sido diagnosticado com a doença, ela diz que nem desconfiou que seria Covid-19.
O mecânico ficou duas semanas com os sintomas, mas o exame só saiu na segunda (27), quando ele já estava entubado e com insuficiência respiratória.
“O meu marido ficou praticamente duas semanas com diagnóstico de gripe. Na primeira semana que ele ficou tossindo e começou com a febre, por que não fizeram o exame? Porque já estava com essa pandemia. Eu fico pensando se ele podia ter uma chance, mas, quem sabe. Essa foi a vontade de Deus, eu não posso querer dar uma desculpa para isso ou questionar”, se apega.
Outros contatos
Os filhos também passaram por exames, mas não foram diagnosticados com a doença. Ana Maria conta com a ajuda da família enquanto cumpre o isolamento em casa.
Ela disse ainda que o marido, antes de ficar com o quadro grave, continuou trabalhando e teve contato com muitas pessoas. Ela disse que algumas estão ligando para ela para saber sobre os sintomas e ficar em alerta, caso a doença comece a se apresentar.
“Não sabemos a quantidade, mas são pessoas que tiveram contato e estão ligando, perguntando sobre os sintomas para poder se precaver. Sobre mim, o médico disse que, como a doença está no início, se eu ficar isolada, vai dar tudo certo”, conta.
Sobre a doença, ela diz que as pessoas precisam se cuidar e levar a sério as orientações de isolamento social e destaca ainda que o período de pandemia não pode ser considerado como normal.
“É uma doença que se alastra muito rápido, então, quem tiver sentindo algum sintoma tem que procurar logo ajuda. Porque os testes são poucos, então, o importante é se cuidar, se isolar. O Estado impôs que todos fiquem em casa, mas as pessoas não levaram a sério, vivem como se estivesse tudo normal. Meu marido não tinha nenhum problema de saúde, mas a doença quando vem, vem pesada”, desabafa.
G1