O Acre e o esforço de seus governantes para mantê-lo na Idade da Pedra é algo tão assustador quanto incompreensível. Há cerca de uma semana a serelepe Eliane Sinhasique, que parece ter a língua mais rápida que o raciocínio, falando feito uma matraca antes de pensar, veio com uma história de colocar um pórtico com dinossauros na entrada de Rio Branco.
A ideia engraçada dividiu opiniões, mas o que chama atenção mesmo é a ironia de usarem animais pré-históricos como cortina de fumaça para que o povo não veja o Acre da Idade da Pedra. Enquanto Sinhasique segue correndo afoita com a ideia que julga genial as redes sociais dos acreanos foi tomada pelo tema como se fosse de grande relevância e por dias esqueceu-se da saúde que está na UTI e da Segurança Pública onde as fações seguem dando as cartas.
Recebi a denúncia de que no hospital de Brasileia e Fundação Hospitalar (Fundhacre) está sem fio para sutura (material usado para dar pontos em pacientes cortados). Um médico da Fundhacre denunciou na manhã desta terça-feira (14) que na unidade de saúde há apenas um fotóforo, obrigando os médicos a decidirem se realizam as cirurgias ou atendem ambulatórios.
“Fotóforo é um equipamento médico para examinar ouvido e nariz. Não é um equipamento caro. O Estado poderia resolver isso rapidamente. Aqui ficamos alternando entre centro cirúrgico e ambulatório. O dia que tem cirurgia não tem ambulatório e vice-versa”, denuncia o médico.
Enquanto falta equipamentos e insumos nos hospitais e há praticamente um rodízio na Unacon para saber quem irá sobreviver, pois há apenas dois leitos equipados com oxigênio para pacientes graves acometidos por câncer, a Sinhasique, leia-se governo, segue surfando no Rex, quero dizer tiranossauro rex.
Para o governo, enquanto os acreanos se entretêm com os dinos como tio rex, velociraptor, triceratops, braquiossauro e espinossauro, tanto melhor é. Enquanto discutem os dinos se esquecem das mortes das filas de espera da saúde pública, da falta de insumos, das dispensas de licitações na saúde, dos ramais abandonados, dos mortos sem nome espalhados pelas ruas da capital do Acre.
É praticamente uma admissão de que se somos um estado da Idade da Pedra, lutamos com problemas pré-históricos, então nada melhor do que decorar a cidade a rigor e jogar cortina de fumaça para que não se veja a verdade.
Que venham os dinossauros em paz, antes que outro secretário querendo se aparecer mais que a Sinhasique convoque os meteoros. Aí sim, será o fim.
*Gina Menezes é jornalista e sócia-fundadora do jornal Folha do Acre